José de Matos-Cruz | 01 Junho 2016 | Edição Kafre | Ano XII –
Semanal – Fundado em 2004
PRONTUÁRiO
TANGÊNCIAS
«Bem o advertiram: olha que o tema está mais que puído. Entre pequenos e grandes escritores que escreveram sobre a mentira e os mentirosos há um cemitério deles. E vários de consistente pergaminho. Para uma obra dessas não há qualquer margem de êxito. Acredita: é mais do mesmo. Desiste. Caso contrário tens fortes hipóteses de juntar nova desgraça à sinistra fortuna que te recheia o cadastro. Nem imaginas o suplício que é andar um livro cá fora sem ruído à volta. Sem recensões, sem chamadas à televisão, sem leitores pagantes, sem mesmo os beneficiários da oferta de exemplares se darem ao trabalho de consumirem a borla e desembaraçarem uma opinião de circunstância, em princípio amigável. Espera-te tragédia igual ou pior do que aquela que queres desensarilhar.»
Assim reflecte Júlio Conrado, num dos textos modelares de Turbulência Na Academia do Amor. Talvez contos virtuais ou excertos vitais, irónicos, imaginários, que se enovelam e testemunham uma realidade furtiva, intrincada. Afinal, implicações de um olhar interior, inquieto, de uma expressão insinuante, maturada - que, envolvendo todos nós, também se liberta pelo mero exercício da narração, e nos motiva ao puro prazer da literatura.
«Bem o advertiram: olha que o tema está mais que puído. Entre pequenos e grandes escritores que escreveram sobre a mentira e os mentirosos há um cemitério deles. E vários de consistente pergaminho. Para uma obra dessas não há qualquer margem de êxito. Acredita: é mais do mesmo. Desiste. Caso contrário tens fortes hipóteses de juntar nova desgraça à sinistra fortuna que te recheia o cadastro. Nem imaginas o suplício que é andar um livro cá fora sem ruído à volta. Sem recensões, sem chamadas à televisão, sem leitores pagantes, sem mesmo os beneficiários da oferta de exemplares se darem ao trabalho de consumirem a borla e desembaraçarem uma opinião de circunstância, em princípio amigável. Espera-te tragédia igual ou pior do que aquela que queres desensarilhar.»
Assim reflecte Júlio Conrado, num dos textos modelares de Turbulência Na Academia do Amor. Talvez contos virtuais ou excertos vitais, irónicos, imaginários, que se enovelam e testemunham uma realidade furtiva, intrincada. Afinal, implicações de um olhar interior, inquieto, de uma expressão insinuante, maturada - que, envolvendo todos nós, também se liberta pelo mero exercício da narração, e nos motiva ao puro prazer da literatura.
VISTORiA
¨Vachel, as estrelas apagaram-se
a escuridão caiu na estrada do Colorado
um automóvel rasteja lento na planície
pela rádio ressoa o langor do jazz na penumbra
o inconsolável caixeiro viajante acende mais um cigarro
Há 27 anos em outra cidade
eu vejo a tua sombra na parede
estás de suspensórios sentado na cama
a mão sombria encosta-te uma pistola à cabeça
o teu vulto cai no soalho
a escuridão caiu na estrada do Colorado
um automóvel rasteja lento na planície
pela rádio ressoa o langor do jazz na penumbra
o inconsolável caixeiro viajante acende mais um cigarro
Há 27 anos em outra cidade
eu vejo a tua sombra na parede
estás de suspensórios sentado na cama
a mão sombria encosta-te uma pistola à cabeça
o teu vulto cai no soalho
Allen Ginsberg
¨Porque o amor não é sempre verde
que bom
quando verde é
nem quero
que mudes de cor
ó amor
verde, verde, verde
ele é tão
bom, bom, bom.
Na cama quando passei a primeira noite
senti-me
feliz quando corria dentro dela
a lágrima
que nos fez amigos infinitos
porque dela
veio quem nos chama: Papá e Mamã
o nosso
primeiro filho, tão lindo, lindo.
Malangatana Valente
¯Meu verso sempre tão triste
Volta pedindo desculpas
Pelo triste que causou
Meus olhos tantas vezes decantados
Inda mais desencantados
Voltam triste ao que deixou
E tudo recomeça novamente
Eu me entrego docemente
E a tristeza eu me dou
Voltei, com meus olhos
Com meu verso
E a todos eu peço
Que me aceitem como sou
Com meu verso sempre triste
Com meus olhos desencantados
Sendo sempre como sou
Meu verso sempre tão triste
Volta pedindo desculpas
Pelo triste que causou
Volta pedindo desculpas
Pelo triste que causou
Meus olhos tantas vezes decantados
Inda mais desencantados
Voltam triste ao que deixou
E tudo recomeça novamente
Eu me entrego docemente
E a tristeza eu me dou
Voltei, com meus olhos
Com meu verso
E a todos eu peço
Que me aceitem como sou
Com meu verso sempre triste
Com meus olhos desencantados
Sendo sempre como sou
Meu verso sempre tão triste
Volta pedindo desculpas
Pelo triste que causou
Maysa e Simonetti
VISTORiA
¨as pedras têm orelhas
para comer à hora exacta
Hans Arp
MEMÓRiA
¸ 01JUN1926-1962
- Norma Jean Baker, aliás Marilyn Monroe: Actriz americana de cinema, poetisa - «Qualquer jovem estrela vibra
quando recebe a primeira carta de um admirador. É como embebedar-se. Mas, que
pode significar, para uma mulher, um milhão de admiradores? Na vida, conta mais
um só homem, que represente o amor». IMAG.70-85-114-189-360-381-386-449-456-463-471
¯03JUN1906-1975 - Josephine Baker:
Cantora e bailarina americana, naturalizada francesa - «Um violinista tem o seu
instrumento, o pintor a paleta… Eu apenas me tinha a mim e, por isso, trabalhei
com o meu corpo». IMAG.47-510
¨ 03JUN1926-1997 - Irwin Allen
Ginsberg, aliás Allen Ginsberg: Poeta americano, ligado à beat generation - «os corpos quentes / brilham juntos / na
escuridão, / a mão move-se / para o centro / da carne, / a pele treme / no contentamento
/ e a alma sobe / feliz até ao olhar». IMAG.9-13-64-85-89-247-306-362-426-469
¯1933-04JUN2006 - Raúl José Aires
Corte Peres Cruz, aliás Raul Indipwo: Músico e pintor português, nascido em
Angola, co-fundador do Duo Ouro Negro - «Amanhã, vou acender uma vela na
Muxima».
¯18NOV1786-05JUN1826 - Carl Maria Friedrich Ernest von Weber:
Compositor romântico, pioneiro do drama musical alemão, maestro - introduziu
uma vareta ou batuta para substituir o rolo de partitura - «Tal como o
amor é intrínseco do homem, a música pertence às artes e à humanidade». IMAG.85-484
¨ 06JUN1606-1684 - Pierre
Corneille: Dramaturgo francês - «Cada um observa os males dos outros com olhos
diferentes dos com que vê os seus próprios». IMAG.485
¯06JUN1936-1977
- Maysa
Figueira Monjardim, aliás Maysa Matarazzo: Compositora e cantora brasileira - «Se o meu mundo
caiu, eu que aprenda a levantar».
¢06JUN1936-2011 - Malangatana
Valente Ngwenya: Pintor e poeta moçambicano, designado Artista Pela Paz
(UNESCO, 1997), autor de Vinte e Quatro
Poemas e Outros Inéditos (1996) - «enquanto as oleiras da aldeia, desta
grande aldeia Moçambique / amassam o barro dos rios / para o pote feito ser o
depositário / de todo o íntimo desse Povo que se não cala disputando /
ecoosamente com os tambores do meu ontem antigo» (Pensar Alto - excerto). IMAG.337
µ07JUN1936-2014 - David Redfern:
Fotógrafo inglês - «As suas imagens luminosas dos concertos de jazz contribuíram imenso para a
popularização do género» musical (Diário
de Notícias). IMAG.537
¢1887-07JUN1966 - Hans Peter
Wilhelm Arp, aliás Hans Arp / Jean Arp: Poeta, escultor e pintor germânico,
naturalizado francês (1926) e ligado aos movimentos surrealista e dadaísta - «O
homem não tem nada essencial para fazer, porém, esse nada, pretende realizá-lo rapidamente e com um ruído sobre-humano».
BREVIÁRiO
¯Oficina do Livro edita Manoel de Oliveira [1908-2015] - O Homem da Máquina de Filmar de Rute
Silva Correia. IMAG.2-11-23-41-42-48-60-68-72-74-83-134-158-161-164-165-170-175-178-190-199-201-203-205-206-208-214-221-222-224-225-237-241-242-244-248-256-277-283-285-287-293-295-301-335-342-347-350-358-384-394-400-431-432-451-494-501-539-546-563
¯ Edições 70 lança Azuis Ultramarinos - Propaganda Colonial e
Censura No Cinema do Estado Novo de Maria do Carmo Piçarra. IMAG.445-523
¨Âncora Editora lança Turbulência Na Academia do Amor de Júlio
Conrado. IMAG.
24-44-184-222-271-292-345-460
¨Relógio D’Água edita Enredos de Rui Nunes. IMAG.399
CALENDÁRiO
18SET2014-28JUN2015 - Em Lisboa, Museu da
Água - Mãe d’Água das Amoreiras expõe, no âmbito do IWA - World Water Congress,
A Água No Azulejo Português do Século
XVIII.
ü22ABR2015 - Oceanário de Lisboa
apresenta Florestas Submersas - Exposição
Temporária por Takashi Amano; música original de Rodrigo Leão. IMAG.26
¨ 1933-22ABR2015 - António Augusto
Rebordão e Cunha Navarro, aliás António Rebordão Navarro: Poeta e ficcionista
português - «Não saibas tu de cor os meus poemas / mas vê antes nas ruas e nos
barcos / no fumo dos cafés, nos bancos de avenida / a poesia que eu quero!». IMAG.23
¸ 23ABR2015 - NOS Audiovisuais
estreia Capitão Falcão de João
Leitão; com Gonçalo Waddington e David Chan. IMAG.435
¢23ABR-20SET2015 - Em Cascais,
Museu Condes de Castro Guimarães expõe Pintura
Naturalista Na Colecção Millennium BCP, sendo curadora Raquel Henriques da
Silva.
¢08MAI2015 - Em Setúbal, Galeria
da Casa da Cultura apresenta Com as
Minhas Tamanquinhas - exposição de pintura de João de Azevedo.
ANTIQUÁRiO
ü03JUN1946
- O estilista francês Louis Réard (1897-1984) apresenta o bikini - o novo fato de banho para mulher, baptizado com o nome do
atol dos testes nucleares norte-americanos no Pacífico.
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