quinta-feira, abril 16, 2015

IMAGINÁRiO #553

José de Matos-Cruz | 01 Março 2016 | Edição Kafre | Ano XII – Semanal – Fundado em 2004


PRONTUÁRiO

DESAFIOS
Estilizando versáteis grafismos pela pulsão estética e narrativa, a banda desenhada de expressão franco-belga explora distintos horizontes, tempos e protagonistas. Por tais parâmetros sobressai a dupla Yslaire (aliás Bernard Hislaire, argumentista e ilustrador) & Balac (aliás Yann/Yannick le Pennetier, argumentista parcial), revelada com Sambre (1986). Tudo começa com Olhos de Sangue, cuja acção decorre numa sociedade rural, pela viragem ao século passado, sob privilégios e humilhações, com uma inspiração romântica traçada entre O Vermelho e o Negro e O Monte dos Vendavais. Em causa, o infante Bernard, arrebatado herdeiro de família, e a jovem Julie, filha de prostituta feiticeira. Assim contam as superstições da terra, corroboradas por um obscuro ensaio antropológico - sinais que se precipitam em conflito tenso mas arrebatador, de vingança latente e sacrifício póstumo. Sambre é uma proposta para leitores maduros, ávidos de emoções fortes, sensuais, sob um erotismo mórbido, cuja ressurreição se precipitaria em Eu Sei Que Tu Virás, com múltiplas gerações e derivações…


CALENDÁRiO

¢27SET2014-20ABR2015 - Em Lisboa, Casa da Achada expõe 10 Artistas de Que Mário Dionísio [1916-1993] Falou - sobre Cândido Portinari (1903-1962), Júlio Pomar (n. 1926), Júlio (1902-1983), Manuel Ribeiro de Pavia (1907-1957), Carlos de Oliveira (1921-1981), Abel Salazar (1889-1946), Júlio Resende (1917-2011), Manuel Filipe (1908-2002), Vieira da Silva (1908-1992) e José Júlio (1916-1963). IMAG.89-243-443-530

¢10JAN-21FEV2015 - Em Lisboa, Fundação Carmona e Costa apresenta Árvores, Flores e Frutos do Meu Jardim - exposição de desenho e escultura de Alberto Carneiro, sendo curadora Catarina Rosendo. IMAG.21-241-299-467

17JAN-MAR2015 - No Porto, Museu Nacional da Imprensa apresenta Charlie - Wolinski - exposição sobre Georges Wolinski (1934-2015) e a revista Charlie Hebdo, com organização de Luís Humberto Marcos. IMAG.27-89-499-550

24JAN2015 - Na Casa Galería, em México DF, Maria João Worm expõe Te Escribo de Lejos - com o apoio de Nemours e a colaboração de Quarto de Jade e da Embaixada de Portugal no México. IMAG.289-301-325-359-386-409-416-430-444-451

¯15JUN1946-25JAN2015 - Artemios Ventouris Roussos, aliás Demis Roussos: Cantor grego, nascido no Egipto, intérprete de Goodbye, My Love, Goodbye - «Sou como um pintor que teve diferentes períodos: jazz, soul, pop e, depois, variedades. Mas não posso lamentar-me, pois tornei felizes sessenta milhões de pessoas com os meus discos».

¢30JAN-29MAR2015 - No Centro Cultural de Cascais, Fundação D. Luís I expõe Esculturas e Obras Em Papel de Pablo Serrano.

¢30JAN-24ABR2015 - Em Lisboa, Galeria Millennium expõe Pintura Modernista Na Colecção Millennium BCP.

¸03-20FEV2015 - Em Aveiro, Galeria do IPDJ expõe Desenhos de Filmes da Animação Portuguesa - sobre produções do Cine-Clube de Avanca, Foi o Fio de Patrícia Figueiredo e A Minha Casinha de Raquel Atalaia.

¢06FEV-12ABR2015 - No Centro Cultural de Cascais, Fundação D. Luís I expõe Na Colecção de Carlos Carreiro.
       
VISTORiA

Floriram Por Engano
¨Floriram por engano as rosas bravas
No Inverno: veio o vento desfolhá-las…
Em que cismas, meu bem? Porque me calas
As vozes com que há pouco me enganavas?

Castelos doidos! Tão cedo caístes!…
Onde vamos, alheio o pensamento,
De mãos dadas? Teus olhos, que num momento
Perscrutaram nos meus, como vão tristes!

E sobre nós cai nupcial a neve,
Surda, em triunfo, pétalas, de leve
Juncando o chão, na acrópole de gelos…

Em redor do teu vulto é como um véu!
Quem as esparze – quanta flor! – do céu,
Sobre nós dois, sobre os nossos cabelos?
Camilo Pessanha


VISTORiA

¨ O oleiro dispõe ainda de um grande thesouro de formas tradicionaes. […] A arte applicada a industria, o desenho e a modelação, fariam sahir d’esses barros obras primorosas, depois da ciência dos chimicos ter estudado e ter ensinado aos oleiros a conhecer os materiaes. Mas falta tambem o laboratorio, e falta enfim o agente honrado, ou a intervenção paternal da câmara mais proxima, que podia estabelecer ou vigiar, pelo menos, as relações do oleiro da aldeia com o comerciante das cidades, porque este especula tambem, sem piedade, com a miseria e com a ignorância do operário, vendendo a obra por um preço excessivo que o prejudica.
Joaquim de Vasconcelos
- A Arte Portuguesa (Nº 12 - excerto)



ANUÁRiO

1865-1866 - Neste ano lectivo, o número de matriculados no Liceu de Coimbra ascende a 1.145 estudantes.
   
COMENTÁRiO

¨É, sem dúvida, o estado que eu procuro encontrar, quando escrevo… Um estado de escuta extremamente intensa, mas do exterior… Quando as pessoas que escrevem, dizem «quando se escreve, está-se em concentração»; eu diria: não, quando escrevo, tenho a sensação de estar em extrema desconcentração, não me possuo mais de nenhum modo, sou eu própria um passadiço, tenho a cabeça esburacada. Só posso explicar-me o que escrevo dessa maneira, porque há coisas que eu não reconheço, naquilo que escrevo. Então, elas vêm de outra parte, não estou sozinha quando escrevo. Mas, isso, eu sei. A pretensão é acreditar que se está só diante da folha de papel, quando tudo nos chega de todos os lados. Evidentemente, os tempos são diferentes, as coisas chegam de mais ou menos longe, chegam de ti, chegam de outro, não importa, chegam do exterior…
Michelet diz que as bruxas surgiram assim… Durante a Idade Média, os homens iam à guerra ou em cruzada, e as mulheres nos campos ficavam completamente sós, isoladas, durante meses e meses, em suas cabanas. E foi assim, a partir da solidão, de uma solidão inimaginável para nós, hoje em dia, que elas começaram a falar às árvores, às plantas, aos animais selvagens, ou seja, a entrar…, a…, como dizer?, a inventar uma inteligência com a natureza, a reinventá-la. Uma inteligência que devia remontar à pré-história, reatá-la. E chamaram-lhes bruxas, e queimaram-nas… Foi na floresta que nós, as mulheres, falámos pela primeira vez, que proferimos uma expressão livre, uma fala inventada. Tudo isso que eu dizia de Michelet, que as mulheres começaram a falar aos animais, às plantas, é uma conversa delas, que elas não tinham aprendido. É porque era uma expressão livre, que foi punida. É que, por causa dessa fala, a mulher desistia de seus deveres para com o homem, para com a casa, justamente. É a voz da liberdade, é normal que ela provoque medo.
Marguerite Duras
Michelle Porte
- Les Lieux de Marguerite Duras (1977 - excertos)
BREVIÁRiO

¨Quetzal edita Herzog de Saul Bellow (1915-2005); tradução de Salvato Telles de Menezes. IMAG.36-87-360-421-518-546

¨Círculo de Leitores edita Defesa Perante o Tribunal do Santo Ofício de Padre António Vieira (1608-1697); coordenação de Paulo Borges. IMAG.118-139-165-191-215-226-237-241-295-494

¯Deutsche Grammophon edita em CD, Classic Karajan: The Essential Collection por Herbert von Karajan (1908-1989). IMAG.173-203-212-223-227-235-236-237-239-266-538-551

¨Porto Editora lança Alabardas / Alabardas, Alabardas, Espingardas, Espingardas de José Saramago (1922-2010); ilustrações de Gűnter Grass. IMAG.38-75-155-158-196-198-224-241-245-252-263-268-311-331-385-394-412-475-521-539

¨Dom Quixote edita Domingos de Agosto de Patrick Modiano; tradução de António José Massano. IMAG.535-552

Âncora Editora re-edita O Juiz de Soajo (1996) de José Ruy. IMAG.4-16-19-36-61-78-96-117-129-141-149-197-223-224-252-263-267-271-279-305-392-416-430-504-514-531

MEMÓRiA
   
¨ 1867-01MAR1926 - Camilo Pessanha: Escritor português, poeta simbolista - «Cansei-me de tentar o teu segredo: / No teu olhar sem cor, – frio escalpelo, / O meu olhar quebrei, a debatê-lo, / Como a onda na crista dum rochedo. // Segredo dessa alma e meu degredo / E minha obsessão! Para bebê-lo / Fui teu lábio oscular, num pesadelo, / Por noites de pavor, cheio de medo.» (Estátua - excerto). IMAG.5-72-307-326
¨ 1849-02MAR1936 - Joaquim de Vasconcelos: Crítico de arte, arqueólogo, musicólogo e historiador, professor da Escola de Belas-Artes de Lisboa - «Há vinte e cinco anos que imprimo no país, viajo no país, prelecciono no país à minha custa, e dou o que não me querem comprar» (1895).

¨ 1914-03MAR1996 - Marguerite Donnadieu, aliás Marguerite Duras: Escritora francesa, e cineasta - «Quando se tem uma certa moral de combate e de poder, é preciso muito pouco para se deixar levar, e passar ao excesso». IMAG.461

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