José
de Matos-Cruz | 01 Março 2016 | Edição Kafre | Ano XII – Semanal – Fundado em
2004
PRONTUÁRiO
DESAFIOS
Estilizando
versáteis grafismos pela pulsão estética e narrativa, a banda desenhada de
expressão franco-belga explora distintos horizontes, tempos e protagonistas.
Por tais parâmetros sobressai a dupla Yslaire
(aliás Bernard Hislaire, argumentista e ilustrador) & Balac (aliás Yann/Yannick le Pennetier, argumentista parcial),
revelada com Sambre (1986). Tudo
começa com Olhos de Sangue, cuja
acção decorre numa sociedade rural, pela viragem ao século passado, sob
privilégios e humilhações, com uma inspiração romântica traçada entre O Vermelho e o Negro e O Monte dos Vendavais. Em causa, o
infante Bernard, arrebatado herdeiro de família, e a jovem Julie, filha de
prostituta feiticeira. Assim contam as superstições da terra, corroboradas por
um obscuro ensaio antropológico - sinais que se precipitam em conflito tenso
mas arrebatador, de vingança latente e sacrifício póstumo. Sambre é uma proposta para leitores maduros, ávidos de emoções fortes, sensuais, sob um erotismo
mórbido, cuja ressurreição se precipitaria em Eu Sei Que Tu Virás, com
múltiplas gerações e derivações…
CALENDÁRiO
¢27SET2014-20ABR2015
- Em Lisboa, Casa da Achada expõe 10
Artistas de Que Mário Dionísio [1916-1993] Falou - sobre Cândido Portinari (1903-1962), Júlio Pomar
(n. 1926), Júlio (1902-1983), Manuel Ribeiro de Pavia (1907-1957), Carlos
de Oliveira (1921-1981), Abel Salazar (1889-1946), Júlio Resende
(1917-2011), Manuel Filipe (1908-2002), Vieira da Silva (1908-1992) e José
Júlio (1916-1963). IMAG.89-243-443-530
¢10JAN-21FEV2015
- Em Lisboa, Fundação Carmona e Costa apresenta Árvores, Flores e Frutos do Meu Jardim - exposição de desenho e
escultura de Alberto Carneiro, sendo curadora Catarina Rosendo. IMAG.21-241-299-467
17JAN-MAR2015
- No Porto, Museu Nacional da Imprensa apresenta Charlie - Wolinski - exposição sobre Georges Wolinski (1934-2015) e
a revista Charlie Hebdo, com
organização de Luís Humberto Marcos.
IMAG.27-89-499-550
24JAN2015
- Na Casa Galería, em México DF, Maria João Worm expõe Te Escribo de Lejos - com o apoio de Nemours e a colaboração de
Quarto de Jade e da Embaixada de Portugal no México. IMAG.289-301-325-359-386-409-416-430-444-451
¯15JUN1946-25JAN2015
- Artemios Ventouris Roussos, aliás Demis Roussos: Cantor grego, nascido no
Egipto, intérprete de Goodbye,
My Love, Goodbye - «Sou como um pintor que teve diferentes
períodos: jazz, soul, pop e, depois,
variedades. Mas não posso lamentar-me, pois tornei felizes sessenta milhões de
pessoas com os meus discos».
¢30JAN-29MAR2015
- No Centro Cultural de Cascais, Fundação D. Luís I expõe Esculturas e Obras Em Papel de Pablo Serrano.
¢30JAN-24ABR2015
- Em Lisboa, Galeria Millennium expõe Pintura
Modernista Na Colecção Millennium BCP.
¸03-20FEV2015
- Em Aveiro, Galeria do IPDJ expõe Desenhos
de Filmes da Animação Portuguesa - sobre produções do Cine-Clube de Avanca,
Foi o Fio de Patrícia Figueiredo e A Minha Casinha de Raquel Atalaia.
¢06FEV-12ABR2015
- No Centro Cultural de Cascais, Fundação D. Luís I expõe Na Colecção de Carlos Carreiro.
Floriram Por Engano
¨Floriram
por engano as rosas bravas
No Inverno: veio o vento desfolhá-las…
Em que cismas, meu bem? Porque me calas
As vozes com que há pouco me enganavas?
Castelos doidos! Tão cedo caístes!…
Onde vamos, alheio o pensamento,
De mãos dadas? Teus olhos, que num momento
Perscrutaram nos meus, como vão tristes!
E sobre nós cai nupcial a neve,
Surda, em triunfo, pétalas, de leve
Juncando o chão, na acrópole de gelos…
Em redor do teu vulto é como um véu!
Quem as esparze – quanta flor! – do céu,
Sobre nós dois, sobre os nossos cabelos?
Camilo Pessanha
VISTORiA
¨ O oleiro dispõe ainda de um grande
thesouro de formas tradicionaes. […] A arte applicada a industria, o desenho e
a modelação, fariam sahir d’esses barros obras primorosas, depois da ciência
dos chimicos ter estudado e ter ensinado aos oleiros a conhecer os materiaes.
Mas falta tambem o laboratorio, e falta enfim o agente honrado, ou a
intervenção paternal da câmara mais proxima, que podia estabelecer ou vigiar,
pelo menos, as relações do oleiro da aldeia com o comerciante das cidades,
porque este especula tambem, sem piedade, com a miseria e com a ignorância do
operário, vendendo a obra por um preço excessivo que o prejudica.
Joaquim de Vasconcelos
- A Arte Portuguesa (Nº 12 - excerto)
ANUÁRiO
1865-1866 - Neste ano
lectivo, o número de matriculados no Liceu de Coimbra ascende a 1.145
estudantes.
COMENTÁRiO
¨É,
sem dúvida, o estado que eu procuro encontrar, quando escrevo… Um estado de
escuta extremamente intensa, mas do exterior… Quando as pessoas que escrevem,
dizem «quando se escreve, está-se em concentração»; eu diria: não, quando
escrevo, tenho a sensação de estar em extrema desconcentração, não me possuo
mais de nenhum modo, sou eu própria um passadiço, tenho a cabeça esburacada. Só
posso explicar-me o que escrevo dessa maneira, porque há coisas que eu não
reconheço, naquilo que escrevo. Então, elas vêm de outra parte, não estou
sozinha quando escrevo. Mas, isso, eu sei. A pretensão é acreditar que se está
só diante da folha de papel, quando tudo nos chega de todos os lados.
Evidentemente, os tempos são diferentes, as coisas chegam de mais ou menos
longe, chegam de ti, chegam de outro, não importa, chegam do exterior…
Michelet diz que as bruxas
surgiram assim… Durante a Idade Média, os homens iam à guerra ou em cruzada, e
as mulheres nos campos ficavam completamente sós, isoladas, durante meses e
meses, em suas cabanas. E foi assim, a partir da solidão, de uma solidão
inimaginável para nós, hoje em dia, que elas começaram a falar às árvores, às
plantas, aos animais selvagens, ou seja, a entrar…, a…, como dizer?, a inventar
uma inteligência com a natureza, a reinventá-la. Uma inteligência que devia
remontar à pré-história, reatá-la. E chamaram-lhes bruxas, e queimaram-nas… Foi
na floresta que nós, as mulheres, falámos pela primeira vez, que proferimos uma
expressão livre, uma fala inventada. Tudo isso que eu dizia de Michelet, que as
mulheres começaram a falar aos animais, às plantas, é uma conversa delas, que
elas não tinham aprendido. É porque era uma expressão livre, que foi punida. É
que, por causa dessa fala, a mulher desistia de seus deveres para com o homem,
para com a casa, justamente. É a voz da liberdade, é normal que ela provoque
medo.
Marguerite Duras
Michelle Porte
- Les Lieux de Marguerite Duras (1977 - excertos)
BREVIÁRiO
¨Quetzal
edita Herzog de Saul Bellow
(1915-2005); tradução de Salvato Telles de Menezes. IMAG.36-87-360-421-518-546
¨Círculo
de Leitores edita Defesa Perante o Tribunal
do Santo Ofício de Padre António Vieira (1608-1697); coordenação de Paulo
Borges. IMAG.118-139-165-191-215-226-237-241-295-494
¯Deutsche Grammophon edita em CD, Classic Karajan: The Essential Collection por
Herbert von Karajan (1908-1989). IMAG.173-203-212-223-227-235-236-237-239-266-538-551
¨Porto
Editora lança Alabardas / Alabardas,
Alabardas, Espingardas, Espingardas de José Saramago (1922-2010);
ilustrações de Gűnter Grass. IMAG.38-75-155-158-196-198-224-241-245-252-263-268-311-331-385-394-412-475-521-539
¨Dom
Quixote edita Domingos de Agosto de
Patrick Modiano; tradução de António José Massano. IMAG.535-552
Âncora
Editora re-edita O Juiz de Soajo (1996)
de José Ruy. IMAG.4-16-19-36-61-78-96-117-129-141-149-197-223-224-252-263-267-271-279-305-392-416-430-504-514-531
MEMÓRiA
¨ 1867-01MAR1926 - Camilo Pessanha:
Escritor português, poeta simbolista - «Cansei-me de tentar o teu segredo: / No
teu olhar sem cor, – frio escalpelo, / O meu olhar quebrei, a debatê-lo, / Como
a onda na crista dum rochedo. // Segredo dessa alma e meu degredo / E minha
obsessão! Para bebê-lo / Fui teu lábio oscular, num pesadelo, / Por noites de
pavor, cheio de medo.» (Estátua -
excerto). IMAG.5-72-307-326
¨ 1849-02MAR1936 - Joaquim de
Vasconcelos: Crítico de arte, arqueólogo, musicólogo e historiador, professor
da Escola de Belas-Artes de Lisboa - «Há vinte e cinco anos que imprimo no
país, viajo no país, prelecciono no país à minha custa, e dou o que não me
querem comprar» (1895).
¨ 1914-03MAR1996
- Marguerite Donnadieu, aliás Marguerite Duras: Escritora francesa, e cineasta
- «Quando se tem uma certa moral de combate e de poder, é preciso muito pouco
para se deixar levar, e passar ao excesso».
IMAG.461
Sem comentários:
Enviar um comentário