terça-feira, agosto 05, 2014

IMAGINÁRiO ExTRA - X #11 (Dark Horse)

IMAGINÁRiO EXTRA - X #11 (Dark Horse)
José de Matos-Cruz | 25 Maio 2015 | Edição Kafre | Ano XII – Semanal – Fundado em 2004

PRONTUÁRiO
CELEBRAÇÃO
A intervenção de ilustradores portugueses no panorama editorial americano das histórias em quadradinhos, com significativas referências nos anos recentes, atinge um momento culminante em X #11, sob chancela Dark Horse Comics, cujos desenhos têm assinatura de Daniel Maia. Ao estilo vigoroso, perfeccionista, Daniel Maia alia a elegância do traço e a dinâmica da expressão. Trata-se de um artista completo, fascinante, capaz de transitar harmoniosamente entre as dimensões realista e fantástica. Definindo personagens, adensando atmosferas. Combinando uma rara sensibilidade criativa, o rigor estético, com uma profunda e meticulosa experimentação. Envolvendo o domínio manual através das potencialidades virtuais. Reflectindo o fulgor clássico sobre as valências da modernidade. Daniel Maia participou na trilogia d’O Infante Portugal, sendo autor – com Susana Resende – das ilustrações capitulares do terceiro tomo, As Sombras Mutantes (2012). Tendo, assim, consolidado uma primordial textura gráfica do herói titular, transfigura ainda o respectivo imaginário para uma expansão em quadradinhos. Entretanto, concebeu um dos universos essenciais de Aurora Boreal, a saga que actualmente estou a desenvolver… Eis marcos de um percurso de partilha e generosidade, mas também, para mim, de uma vivência única, de afectividade e admiração. O talento natural e o esbelto cunho artístico de Daniel Maia geram visões deslumbrantes e inspiradoras – que assinalo em testemunho pessoal de apreço e pública congratulação!

COMENTÁRiO
_ A experiência de fazer este comic-book, X #11, marcou a minha estreia efectiva na banda desenhada norte-americana, após uma edição inicial na Previews (2001) e uma primeira instância profissional, para a Platinum Studios (2003). Mas sendo a revista um fill-in (i.e. um número isolado, de substituição), que espero seja em breve suplantado por novos trabalhos, não sinto que haja justificação suficiente para este Imaginário-Extra, daí que opte por preenchê-lo com descrição das circunstâncias que levaram à oportunidade.
Após algumas tentativas goradas e um hiato ausente dos meandros editoriais, voltei a apostar nos comics em 2013, na sequência da participação nos livros d’O Infante Portugal, que me devolveram o gosto criativo, e de assistências artísticas para o mercado estrangeiro, que promoveram uma disciplina de trabalho. Posteriormente, voltando ao contacto com o agente artístico & arte-finalista Joe Prado, fui convidado a integrar a nova agência que este iria criar, com o sócio Ivan Freitas da Costa, a Chiaroscuro Studios. A apresentação deu-se alguns meses à frente, e a minha primeira ocasião de trabalho surgiu no fim do ano – precisamente dez anos após o ensaio inicial –, quando a editora Dark Horse Comics precisou de um artista convidado na série mensal X (vol.2).
Apesar de trabalhos feitos em contra-relógio durante aquele ano, e uma amostra esmerada, para portfólio, fiquei agitado ao assumir um desafio tão definitivo, pois era uma oportunidade rara de realizar algo palpável e me incitar a nível profissional. Outro factor entusiasmante deveu-se ao título ter sido celebrizado pelo escritor veterano Steven Grant, na década de ’90, sendo uma afinidade que me agradava, dado o meu primeiro trabalho pago na indústria americana ter sido a desenvolver um projecto original escrito por ele. No processo, fui acompanhado pelo arte-finalista Mark Pennington (…apelido talhado à medida de um ‘inker, diga-se), que embora se tenha licenciado na Joe Kubert School no mesmo ano em que entrei na Escola Primária, colaborou ao longo dos anos com muitos dos meus ídolos do sector.
O que guardei do processo criativo foi, acima de tudo, a revelação dos meus pontos fortes e fracos, que nem sempre foram os que esperava, quando levados aos extremos pela exigência dos prazos; mas simultaneamente, também percebi que, limadas as arestas, se trata de uma ocupação que consigo desenvolver. Ficou ainda marcada a noção do desgaste que trabalhar a este nível impõe, e a minha satisfação por ter superado esta prova de fogo.
Resta sublinhar o gozo que o guião de Duane Swierczynski propiciou, o qual, neste capítulo da história, comparo ao confronto similar, no final de Assalto ao Arranha-Céus/Die Hard, mas entre super-heróis e vilões! Não só o tom é impecável, aproveitando cada momento e cada acção para definir as personagens e preparar o desfecho inesperado, como equilibra magistralmente a rotatividade do violento climax entre X e o mercenário Gamble, num edifício em chamas, com a tensão subtil entre Leigh e Ellie, respectivamente a colega de X e a assistente do gangster Carmine Tango.
?Daniel Maia
RELATÓRiO
_ X (vol.2) #11 – Deep Pockets of Pain (Março 2014) | Editora: Dark Horse Comics | Formato: 32 páginas, Super-herói/Crime | PVP: 2,99$ | Autores: Duane Swierczynski (Texto), Daniel Maia (Desenho), Mark Pennington (Arte-final), Michelle Madsen (Cores) e Garry Brown (Ilustração de Capa)

_ Editado em Agosto 2014, o álbum X vol.3: Siege, por Duane Swierczynski, Eric Nguyen e Daniel Maia, et al, reúne os comic-books X #9-12, com 104 páginas e PVP 14,99$. 

ELUCIDÁRiO
X #11: Deep Pockets of Pain – Sinopse:
_ As mãos de X já estavam ocupadas com Carmine Tango… Depois, Gamble reapareceu! X pensava ter morto este suave hitman há anos atrás, mas o assassino obcecado por sorte ainda está no jogo, apostando as suas chances numa vingança! Bem-vindo a Arcadia, onde as previsões são más… e os maus são imprevisíveis!

_ A cidade Arcádia cai no caos, à medida que velhos vilões regressam e novos inimigos nascem! Enquanto X enfrenta psicopatas suicidas, mafiosos supersticiosos e assassinos viciados em adrenalina, a sua colega Leigh descobre os segredos do seu passado… antes deste fechar a sua máscara a cadeado e se transformar em X!


Quem é X?
_ Relançado em 2012, na nova linha de super-heróis da Dark Horse Comics, onde se reabilitam personagens clássicas e outras nascidas nos anos ‘90, nomeadamente aquelas criadas para a divisão Comics' Greatest World da mesma editora, e que interligava num universo comum anti-heróis/heroínas como Barb Wire e Ghost, X é escrito por Duane Swierczynski, que sucede a Steven Grant, na série original.
Herdeiro da verve anti-heróica sentida na altura, X combatia em Arcadia, uma de quatro cidades abordadas na divisão editorial, antro de corrupção e violência, onde o vigilante era a única força pelo Bem. Caracterizado por uma máscara-capuz com “X” vermelho no centro, amovível devido ao grilhão e cadeado presos ao pescoço, X não desfruta de identidade secreta como a maioria dos heróis e é-lhe desconhecido um passado. Apenas o seu método o demarca: quando um criminoso é avisado, recebe um corte diagonal na face; o próximo corte diagonal – a fechar o “X” – precede a sua morte!

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