José
de Matos-Cruz | 16 Junho 2015 | Edição Kafre | Ano XII – Semanal – Fundado em
2004
PRONTUÁRiO
AVENTURAS
No
panorama da banda desenhada franco-belga, Hermann Huppen distingue-se entre os artistas mais talentosos, sólidos e versáteis,
conjugando as tradições da acção, sob o signo heróico, com o testemunho
crítico, sobre a realidade em
transe. Basta recordar alguns segmentos determinantes da sua
extensa carreira: Jugurtha (com
guiões por Laymillie), Bernard Prince e Comanche (por Greg), Nic
(por Morphée), Le Secret des
Hommes-Chiens (por Yves Huppen). Mas é como autor integral, que o
argumentista & ilustrador Hermann atinge, porventura, a expressão da sua
plena vitalidade: Abominable, Missié Vandisandi ou Sarajevo-Tango,
o épico Les Tours de Bois-Maury -
conjugando todas as paisagens intemporais, todos os horizontes da história, em
conflitos, dramas, humores, emoções, confrontos. Ainda nesta modalidade, muitos
dos fiéis leitores privilegiam o culto de Jeremiah
- cuja exaltação aventuresca culmina em Mercenaires. Tudo
começa algures numa região desolada, durante uma tempestade de areia. Jeremiah
e Kurdy chegam à aldeia mineira de Sears & Como, com um velhote, Angus Greenspoon,
enquanto um estranho grupo paramilitar assola a região… IMAG.319
CALENDÁRiO
¨MAI2014 - O poeta, ensaísta e historiador brasileiro Alberto da Costa e
Silva é distinguido com o Prémio Camões.
¸05JUN2014 - Alambique estreia A Vida Invisível de Vítor Gonçalves; com
Filipe Duarte e Maria João Pinho.
¢05JUN-31AGO2014 - Museu de Évora expõe Subitamente, o Povo de José
Miguel Gervásio.
µ20JUN-13JUL2014 - Em Cascais, Casa de Santa Maria apresenta Magie
Naturalis, exposição de fotografia de António Lopes.
MEMÓRiA
1831-19JUN1875
- Levy Maria Jordão, Visconde e Barão de Paiva Manso: Escritor e jurisconsulto
português, adversário da aplicação da pena de morte, político e professor
universitário, historiador e advogado da Casa de Bragança, membro da loja
maçónica Liberdade e da Comissão Revisora do Código Penal, autor de Portugalliae Inscriptiones Romanae
(1859) ou de História do Congo -
Documentos (1877) - «A nossa lei penal [Código de 1852] por certo que é
melhor do que a antiga Ordenação quanto aos princípios que a dominam, mas na
sua parte geral é sem dúvida a mais imperfeita da Europa civilizada» (1853).
¨1800-18JUN1875 - António Feliciano de Castilho: Escritor e pedagogo
português - «Passaram os povos antigos, com as suas religiões e usos
particulares. Nos escritos que de então sobreviveram, que é o que mais nos
encanta? Não são por certo as descrições dos seus usos exclusivos, ainda que para
aí se atraia fortemente a curiosidade; são, sim, os toques alusivos ao viver
rural, porque enfim, aí é que é o ponto de contacto de todas as idades, e de todas
as civilizações. O campo é que é o centro de unidade da espécie humana» (Felicidade Pela Agricultura - 1849). IMAG.32-39-52-59-99-118-161-260-354-406
1928-20JUN2005
- Charles David Keeling: Cientista norte-americano, químico de formação,
estabeleceu a Curva de Keeling, para a investigação das alterações climáticas.
¨21JUN1905-1980 - Jean-Paul Sartre: Escritor e filósofo francês - «Para a
realidade humana, ser é escolher-se: nada lhe vem de fora, nem tão-pouco de
dentro, que possa receber ou aceitar. Está inteiramente abandonada, sem auxílio
de nenhuma espécie, à insustentável necessidade de se fazer ser até ao mais
ínfimo pormenor. Assim, a liberdade não é um ser: é o ser do homem, quer dizer,
o seu nada de ser. O homem não pode ser ora livre, ora escravo; ele é
inteiramente e sempre livre, ou não é» (O
Ser e o Nada). IMAG.39-183-267-270-468
04MAI1825-29JUN1895 - Thomas Huxley: Biólogo inglês - «Em temas intelectuais,
segue a tua razão tanto quanto possas, sem temer qualquer outro tipo de
consideração. E, em sentido negativo: em temas intelectuais, não finjas que é
certa alguma conclusão que não tenha sido demonstrada ou seja demonstrável».
VISTORiA
Confia
numa testemunha, só quando ela fala de questões em que não se acham envolvidos
nem o seu interesse próprio, nem as suas paixões, nem os seus preconceitos, nem
o amor pelo maravilhoso. No caso de haver algum de tais envolvimentos, deves
requerer uma evidência corroborativa, em proporção exacta à violação da
probabilidade evocada pelo seu testemunho.
Thomas Huxley
- Essays Upon Some
Controverted
Questions
¨Tem a solidão isto de comum com o silêncio e a escuridade: espanta; e
aturde quem nela cai; mas, logo que o ouvido, desadormentado dos sons fortes,
aprende a conversar com a mudez; tanto que os olhos, desofuscados dos luzeiros
intensos, se exercitam em caçar espectros de raios; fosforescências indecisas,
que são como que os infusórios das trevas; descerrou-se o negrume em
brilhantismo, a calada aviventou-se de diálogos, a solidão, que parecia o nada,
é o teatro com o seu drama, é um mundo novo com um sistema completo de
existências imprevistas e apropriadas.
Que
admira? A solidão medita, e a meditação cria. Os sentidos pastam só no que lhes
oferecem a natureza, a fortuna, o acaso; a divindade interior, a alma, têm
comércios inefáveis com o íntimo e ignorado. S. João, entre os nevoeiros de
Patmos, divisa uma Jerusalém celeste; nas cogitações de Sócrates, aparece o Omnipotente;
nos êxtases de Platão, reflexos da Trindade; nos cálculos taciturnos de
Galileu, firma-se o céu, volteiam as plantas; Colombo faz surgir do fundo dos
mares a América; Leverrier, mais globos no espaço; Fulton, o hipógrafo, o
pégaso do vapor, magia, poesia, potência escrava do homem, e dominadora,
primeiro dos oceanos, depois dos continentes e amanhã, talvez, dos ares; a
solidão cismadora dá a Eneida a Virgílio, mostra a Lineu os amores e o sono das
plantas, a Dante o Inferno, a Fourier o paraíso terrestre, a Newton e a Laplace
o código dos astros, a Daguerre os talentos artísticos do Sol, ao Gama o
caminho do Oriente, ao soldado Camões o da imortalidade, põe na mão de Gutembergue
a chave do cofre das ciências, na de Vicente de Paulo a da caridade, na de Say
a da riqueza pública, na de Pestalozzi e Froebel a da escola séria e fecunda.
António
Feliciano de Castilho
- A
Chave do Enigma
(1836
- excerto)
Antes de Vivermos, a Vida É Coisa Nenhuma
¨O homem começa por existir, isto é, o homem é de início o que se lança
para um futuro e o que é consciente de se projectar no futuro. O homem é
primeiro um projecto que se vive subjectivamente, em vez de ser musgo, podridão
ou couve-flor; nada existe previamente a esse projecto; nada existe no céu
ininteligível, e o homem será em primeiro lugar o que tiver projectado ser. Não
o que tiver querido ser. Porque o que nós entendemos ordinariamente por querer
é uma decisão consciente, e para a generalidade das pessoas posterior ao que se
elaborou nelas. Posso querer aderir a um partido, escrever um livro, casar-me:
tudo isto é manifestação de uma escolha mais original, mais espontânea do que
se denomina por vontade.
Escreveu
Dostoievsky: «Se Deus não existisse, tudo seria permitido.» É esse o ponto de
partida do existencialismo. Com efeito, tudo é permitido se Deus não existe, e,
por conseguinte, o homem encontra-se abandonado, porque não encontra em si, nem
fora de si, a que agarrar-se. Ao começo não tem desculpa. Se, na verdade, a
existência precede a essência, não é possível explicação por referência a uma
natureza humana dada e hirta; dito de outro modo, não há determinismo, o homem
é livre, o homem é liberdade. Se, por outro lado, Deus não existe, não
encontramos em face de nós valores ou ordens que legitimem a nossa conduta.
Assim, não temos nem por detrás de nós nem à nossa frente, no domínio luminoso
dos valores, justificação ou desculpas. Estamos sozinhos, sem desculpa. É o que
exprimirei dizendo que o homem está condenado a ser livre.
Se
suprimi Deus Pai, cumpre que alguém invente os valores. Temos de tomar as
coisas como elas são. Aliás, dizer que inventamos os valores não significa
senão isto: a vida não tem sentido a priori. Antes de vivermos, a vida é coisa
nenhuma, mas é a nós que compete dar-lhe um sentido, e o valor não é outra
coisa senão o sentido que tivermos escolhido.
Jean-Paul
Sartre
-
O Existencialismo É Um Humanismo
(excertos)
ANTIQUÁRiO
01JUL1864-30JUN1865 - Neste período, no concelho de Lisboa…
…o
valor de sardinha consumida é de 61:662$400 réis.
…são
importados, de vários países, 28.590.423 quilogramas de diversos cereais.
…o
valor de frutos produzidos é de 25:041$700 réis.
…são
gastas 150.362 caixas de carvão.
…o
valor de pescado é de 15:870$070 réis.
…são
consumidos 682.200 melões, 521.376 melancias, 8.700.900 laranjas, e 850.016
decilitros de vinho comum que pagaram direitos de alfândega.
BREVÁRiO
¨A Esfera dos Livros edita Espiões Em Portugal Durante a II Guerra Mundial de Irene Flunser Pimentel.
¯Harmonia Mundi edita em CD, Bela Bartók [1881-1945]: Violin Concertos Nºs 1 & 2 por Isabelle Faust, com
Swedish Radio Symphony Orchestra, sob a direcção de Daniel Harding. IMAG.128-213-236-316-335-435
¨A Esfera dos Livros edita Gungunhana - O Último Rei de Moçambique de Manuel Ricardo Miranda.
¨Guimarães edita Exaltação da Filosofia Derrotada de Orlando Vitorino (1922-2003).
¨Guimarães edita Exaltação da Filosofia Derrotada de Orlando Vitorino (1922-2003).
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