sexta-feira, agosto 22, 2014

IMAGINÁRiO #519

José de Matos-Cruz | 16 Junho 2015 | Edição Kafre | Ano XII – Semanal – Fundado em 2004

PRONTUÁRiO

AVENTURAS
No panorama da banda desenhada franco-belga, Hermann Huppen distingue-se entre os artistas mais talentosos, sólidos e versáteis, conjugando as tradições da acção, sob o signo heróico, com o testemunho crítico, sobre a realidade em transe. Basta recordar alguns segmentos determinantes da sua extensa carreira: Jugurtha (com guiões por Laymillie), Bernard Prince e Comanche (por Greg), Nic (por Morphée), Le Secret des Hommes-Chiens (por Yves Huppen). Mas é como autor integral, que o argumentista & ilustrador Hermann atinge, porventura, a expressão da sua plena vitalidade: Abominable, Missié Vandisandi ou Sarajevo-Tango, o épico Les Tours de Bois-Maury - conjugando todas as paisagens intemporais, todos os horizontes da história, em conflitos, dramas, humores, emoções, confrontos. Ainda nesta modalidade, muitos dos fiéis leitores privilegiam o culto de Jeremiah - cuja exaltação aventuresca culmina em Mercenaires. Tudo começa algures numa região desolada, durante uma tempestade de areia. Jeremiah e Kurdy chegam à aldeia mineira de Sears & Como, com um velhote, Angus Greenspoon, enquanto um estranho grupo paramilitar assola a região… IMAG.319



CALENDÁRiO

¨MAI2014 - O poeta, ensaísta e historiador brasileiro Alberto da Costa e Silva é distinguido com o Prémio Camões.

¸05JUN2014 - Alambique estreia A Vida Invisível de Vítor Gonçalves; com Filipe Duarte e Maria João Pinho.

¢05JUN-31AGO2014 - Museu de Évora expõe Subitamente, o Povo de José Miguel Gervásio.

µ20JUN-13JUL2014 - Em Cascais, Casa de Santa Maria apresenta Magie Naturalis, exposição de fotografia de António Lopes.
       
MEMÓRiA

1831-19JUN1875 - Levy Maria Jordão, Visconde e Barão de Paiva Manso: Escritor e jurisconsulto português, adversário da aplicação da pena de morte, político e professor universitário, historiador e advogado da Casa de Bragança, membro da loja maçónica Liberdade e da Comissão Revisora do Código Penal, autor de Portugalliae Inscriptiones Romanae (1859) ou de História do Congo - Documentos (1877) - «A nossa lei penal [Código de 1852] por certo que é melhor do que a antiga Ordenação quanto aos princípios que a dominam, mas na sua parte geral é sem dúvida a mais imperfeita da Europa civilizada» (1853).


¨1800-18JUN1875 - António Feliciano de Castilho: Escritor e pedagogo português - «Passaram os povos antigos, com as suas religiões e usos particulares. Nos escritos que de então sobreviveram, que é o que mais nos encanta? Não são por certo as descrições dos seus usos exclusivos, ainda que para aí se atraia fortemente a curiosidade; são, sim, os toques alusivos ao viver rural, porque enfim, aí é que é o ponto de contacto de todas as idades, e de todas as civilizações. O campo é que é o centro de unidade da espécie humana» (Felicidade Pela Agricultura - 1849). IMAG.32-39-52-59-99-118-161-260-354-406

1928-20JUN2005 - Charles David Keeling: Cientista norte-americano, químico de formação, estabeleceu a Curva de Keeling, para a investigação das alterações climáticas.

¨21JUN1905-1980 - Jean-Paul Sartre: Escritor e filósofo francês - «Para a realidade humana, ser é escolher-se: nada lhe vem de fora, nem tão-pouco de dentro, que possa receber ou aceitar. Está inteiramente abandonada, sem auxílio de nenhuma espécie, à insustentável necessidade de se fazer ser até ao mais ínfimo pormenor. Assim, a liberdade não é um ser: é o ser do homem, quer dizer, o seu nada de ser. O homem não pode ser ora livre, ora escravo; ele é inteiramente e sempre livre, ou não é» (O Ser e o Nada). IMAG.39-183-267-270-468

 04MAI1825-29JUN1895 - Thomas Huxley: Biólogo inglês - «Em temas intelectuais, segue a tua razão tanto quanto possas, sem temer qualquer outro tipo de consideração. E, em sentido negativo: em temas intelectuais, não finjas que é certa alguma conclusão que não tenha sido demonstrada ou seja demonstrável».

VISTORiA

Confia numa testemunha, só quando ela fala de questões em que não se acham envolvidos nem o seu interesse próprio, nem as suas paixões, nem os seus preconceitos, nem o amor pelo maravilhoso. No caso de haver algum de tais envolvimentos, deves requerer uma evidência corroborativa, em proporção exacta à violação da probabilidade evocada pelo seu testemunho.
Thomas Huxley
- Essays Upon Some
Controverted Questions

¨Tem a solidão isto de comum com o silêncio e a escuridade: espanta; e aturde quem nela cai; mas, logo que o ouvido, desadormentado dos sons fortes, aprende a conversar com a mudez; tanto que os olhos, desofuscados dos luzeiros intensos, se exercitam em caçar espectros de raios; fosforescências indecisas, que são como que os infusórios das trevas; descerrou-se o negrume em brilhantismo, a calada aviventou-se de diálogos, a solidão, que parecia o nada, é o teatro com o seu drama, é um mundo novo com um sistema completo de existências imprevistas e apropriadas.
Que admira? A solidão medita, e a meditação cria. Os sentidos pastam só no que lhes oferecem a natureza, a fortuna, o acaso; a divindade interior, a alma, têm comércios inefáveis com o íntimo e ignorado. S. João, entre os nevoeiros de Patmos, divisa uma Jerusalém celeste; nas cogitações de Sócrates, aparece o Omnipotente; nos êxtases de Platão, reflexos da Trindade; nos cálculos taciturnos de Galileu, firma-se o céu, volteiam as plantas; Colombo faz surgir do fundo dos mares a América; Leverrier, mais globos no espaço; Fulton, o hipógrafo, o pégaso do vapor, magia, poesia, potência escrava do homem, e dominadora, primeiro dos oceanos, depois dos continentes e amanhã, talvez, dos ares; a solidão cismadora dá a Eneida a Virgílio, mostra a Lineu os amores e o sono das plantas, a Dante o Inferno, a Fourier o paraíso terrestre, a Newton e a Laplace o código dos astros, a Daguerre os talentos artísticos do Sol, ao Gama o caminho do Oriente, ao soldado Camões o da imortalidade, põe na mão de Gutembergue a chave do cofre das ciências, na de Vicente de Paulo a da caridade, na de Say a da riqueza pública, na de Pestalozzi e Froebel a da escola séria e fecunda.
António Feliciano de Castilho
 - A Chave do Enigma
(1836 - excerto)

Antes de Vivermos, a Vida É Coisa Nenhuma

¨O homem começa por existir, isto é, o homem é de início o que se lança para um futuro e o que é consciente de se projectar no futuro. O homem é primeiro um projecto que se vive subjectivamente, em vez de ser musgo, podridão ou couve-flor; nada existe previamente a esse projecto; nada existe no céu ininteligível, e o homem será em primeiro lugar o que tiver projectado ser. Não o que tiver querido ser. Porque o que nós entendemos ordinariamente por querer é uma decisão consciente, e para a generalidade das pessoas posterior ao que se elaborou nelas. Posso querer aderir a um partido, escrever um livro, casar-me: tudo isto é manifestação de uma escolha mais original, mais espontânea do que se denomina por vontade.
Escreveu Dostoievsky: «Se Deus não existisse, tudo seria permitido.» É esse o ponto de partida do existencialismo. Com efeito, tudo é permitido se Deus não existe, e, por conseguinte, o homem encontra-se abandonado, porque não encontra em si, nem fora de si, a que agarrar-se. Ao começo não tem desculpa. Se, na verdade, a existência precede a essência, não é possível explicação por referência a uma natureza humana dada e hirta; dito de outro modo, não há determinismo, o homem é livre, o homem é liberdade. Se, por outro lado, Deus não existe, não encontramos em face de nós valores ou ordens que legitimem a nossa conduta. Assim, não temos nem por detrás de nós nem à nossa frente, no domínio luminoso dos valores, justificação ou desculpas. Estamos sozinhos, sem desculpa. É o que exprimirei dizendo que o homem está condenado a ser livre.
Se suprimi Deus Pai, cumpre que alguém invente os valores. Temos de tomar as coisas como elas são. Aliás, dizer que inventamos os valores não significa senão isto: a vida não tem sentido a priori. Antes de vivermos, a vida é coisa nenhuma, mas é a nós que compete dar-lhe um sentido, e o valor não é outra coisa senão o sentido que tivermos escolhido.
Jean-Paul Sartre
- O Existencialismo É Um Humanismo
(excertos)
          
ANTIQUÁRiO

01JUL1864-30JUN1865 - Neste período, no concelho de Lisboa…
…o valor de sardinha consumida é de 61:662$400 réis.
…são importados, de vários países, 28.590.423 quilogramas de diversos cereais.
…o valor de frutos produzidos é de 25:041$700 réis.
…são gastas 150.362 caixas de carvão.
…o valor de pescado é de 15:870$070 réis.
…são consumidos 682.200 melões, 521.376 melancias, 8.700.900 laranjas, e 850.016 decilitros de vinho comum que pagaram direitos de alfândega.
        
BREVÁRiO

¨Assírio & Alvim re-edita Os Passos Em Volta de Herberto Helder. IMAG.221-440-487-504

¨A Esfera dos Livros edita Espiões Em Portugal Durante a II Guerra Mundial de Irene Flunser Pimentel.

¯Harmonia Mundi edita em CD, Bela Bartók [1881-1945]: Violin Concertos Nºs 1 & 2 por Isabelle Faust, com Swedish Radio Symphony Orchestra, sob a direcção de Daniel Harding. IMAG.128-213-236-316-335-435

¨A Esfera dos Livros edita Gungunhana - O Último Rei de Moçambique de Manuel Ricardo Miranda.

¨
Guimarães edita Exaltação da Filosofia Derrotada de Orlando Vitorino (1922-2003). 

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