sexta-feira, abril 18, 2014

IMAGINÁRiO #501

José de Matos-Cruz | 01 Fev. 2015 | Edição Kafre | Ano XII – Semanal – Fundado em 2004

PRONTUÁRiO
Transfigurações
Autor versátil e fulgurante, ao estilizar as potencialidades gráficas ou narrativas da banda desenhada, em que evoluem - pelo signo erótico - a aliciante insurreição ficcional ou uma perversa sofisticação estética, Milo Manara concebeu Kama Sutra em 1997, tendo em livre inspiração a obra homónima do filósofo hindu Mallanaga Vatsyayana. Argumentista e ilustrador, Manara leva às últimas consequências uma subversão primordial sobre o milenar tratado amoroso de Vatsyayana, sem que a transfiguração corresponda fielmente ao celebrado clássico. Ironia, exibicionismo - através de peripécias/experiências excitantes, sob uma vertigem obsessiva/exuberante - pontuam ou transgridem, além dos preconceitos e das convenções, este universo luxuriante, cuja heroína pretenderia consumar todas as ambições transgressivas, todos os impulsos fantasistas. Entre visões exóticas de uma saga interminável, eis reincidências libidinosas ou dissolutas - que se transferem, perturbantes, ao próprio olhar do leitor. Assim em causa e reexposto - pelo desafio libertino, libertário do imaginário…
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MEMÓRiA
02FEV1875-1962 - Fritz Kreisler: Compositor e violinista austríaco da escola franco-belga - «A vida tem apenas algumas horas de entusiasmo e euforia… Subitamente, empalidece e entra em decadência». >IMAG.355

1919-03FEV1995 - Maria da Graça Neves Saramago, aliás Maria da Graça: Cantora e actriz portuguesa, intérprete de O Pátio das Cantigas (1941 - António Lopes Ribeiro).

05FEV1885-24DEZ1935 - Alban Maria Johannes Berg, aliás Alban Berg: Compositor austríaco, discípulo de Arnold Schoenberg, considerado o romântico do dodecafonismo - «Música é, ao mesmo tempo, o produto do conhecimento e da sensibilidade, pelo que requer dos seus discípulos, compositores e executantes, não apenas talento e entusiasmo, mas também sabedoria e percepção, as quais são resultado inevitável de estudo e reflexão». >IMAG.452

06FEV1945-1981 - Bob Marley: Cantor, guitarrista e compositor jamaicano - «A minha música é contra o sistema, e a favor da justiça. É contra as regras que dizem que a cor de um homem lhe decide o destino. Deus não fez regras sobre a cor». >IMAG.322

07FEV1935-2009 - João Bénard da Costa: Escritor e crítico, actor como Duarte de Almeida, Director da Cinemateca Portuguesa - Museu do Cinema - «A criação humana é uma forma de nos defendermos contra a morte e uma forma de compensação diante do terror que a vida inspira». >IMAG.27-190-208-222-252-287-359

1929-07FEV1985 - Nuno Bragança: Escritor português, autor de Square Tolstoi (1981) - «A minha dificuldade portuguesa em encontrar a prosa certa não a desligo eu dessoutra que é a maneira certa de ser em Portugal. Nem vejo bem como uma possa ser resolvida sem a outra… Sinto que pertenço a um País que em parte me não quer». >IMAG.212-445-473

CALENDÁRiO
1930-01FEV2014 - Maximilian Schell: Actor austríaco de teatro e cinema, pianista e maestro, distinguido com o Oscar por Julgamento Em Nuremberga (1960), irmão de Maria Schell (1926-2005) - «A morte pode ter sido a salvação para ela. Não para mim». >IMAG.39

14FEV-27ABR2014 - No Centro Cultural de Cascais, Fundação D. Luís I expõe O Regresso das Histórias Pintadas de Pedro Zamith.

ANTIQUÁRiO
04FEV1985 - Em Lisboa, é inaugurado o Museu Nacional do Teatro, ficando instalado num edifício do Século XVIII, o antigo Palácio do Monteiro Mor, para esse fim rigorosamente recuperado e adaptado. >IMAG.10-17-150-170-205-208-317-332-471

05FEV1525 - Na vila de Alvito, El-Rei D. João III contrai matrimónio com a Infanta D. Catarina, filha de Joana a Louca, rainha de Espanha, e de D. Filipe I, Arquiduque de Áustria e Duque da Borgonha.

VISTORiA
Os ministros serão denunciados frequentemente, acusados às vezes, condenados raramente e punidos quase nunca.
Benjamin Constant
- Da Responsabilidade dos Ministros (1815, excerto)

Estou sentado num dancing e tenho a mão. Ainda em volta de uma bebida de pressão de ar.
Às vezes, acontece num sítio destes e em hora assim que o pecado original se derreteu num shaker, acabando-se a mortalidade infantil e a Polícia. Sinto essa harmonia. Por cima dos ombros cansados, como um xaile da leveza dum suspiro de gato. Pelas luzes das mesas e fumo nos olhos trotam as mais certeiras notas de piano.
Nuno Bragança
- A Noite e o Riso
(1969, excerto)

PARLATÓRiO
Os ventos que, às vezes, nos tiram algo que amamos, são os mesmos que trazem algo que viremos a amar… Por isso, não devemos lamentar o que nos foi retirado e, sim, aprender a amar o que nos é oferecido. Pois, tudo aquilo que realmente nos pertence, nunca deixa de o ser para sempre…
Bob Marley

TRAJECTÓRiA
João Bénard da Costa
João Bénard da Costa, falecido a dia 21 de Maio de 2009, aos 74 anos de idade, foi o mais importante divulgador e defensor do cinema em Portugal, papel que é bem reconhecido pelo trabalho que levou a cabo na Cinemateca Portuguesa, desde 1980, primeiro como sub-director até 1991, e depois como director até à data da sua morte, tomando o lugar de Luís de Pina também falecido.
Com a sua morte pode dizer-se que a cinefilia em Portugal fica órfã.
Os cinéfilos recordam bem o trabalho desenvolvido naquele organismo, onde foi responsável por uma série de ciclos memoráveis que deram a descobrir pela primeira vez entre nós a obra existente de autores como Alfred Hitchcock, Fritz Lang, John Ford, Carl Dreyer, Luís Buñuel e muitos outros.
Mas no campo do cinema o seu trabalho como divulgador vem de mais longe, da altura em que, exercendo funções na Fundação Calouste Gulbenkian, organizou, nas suas salas, uma série de ciclos que se tornaram lendários entre os cinéfilos, desde a retrospectiva dedicada a Roberto Rossellini, com a presença do realizador, ainda antes do 25 de Abril, e, mais tarde, os grandes ciclos dedicados ao cinema americano dos anos 30 (1977), 40 (1979) e 50 (1981), que abriram as portas da cinefilia para tantos curiosos. E mais tarde, já em funções na Cinemateca, os grandes ciclos sobre o cinema de Ficção Científica e o Musical, todos acompanhados por catálogos que se tornaram elementos de consulta obrigatória.
O seu trabalho como divulgador passa também pela crítica (as populares folhas da Cinemateca a que deu um cunho inconfundível e um estilo que deixou marcas), pela história (Histórias do Cinema Português) e pela crónica cinematográfica ou não (os seus textos sobre música e pintura são particularmente apaixonantes) que publicou nos jornais Independente e Público: Muito Lá de Casa, Os Filmes da Minha Vida (reunidos em volumes), A Casa Encantada, que foi a sua última colaboração para a imprensa.
Esta actividade militante levou-o também à defesa e ilustração do cinema português, em especial o novo, impondo (ou revelando) muitos nomes das mais recentes gerações. A ele se deve grande parte da revisão que foi feita à obra de Manoel de Oliveira, contribuindo para o seu conhecimento nacional e internacional, sendo também presença frequente nos filmes do mestre com o nome de Duarte de Almeida desde O Passado e o Presente até ao pequeno segmento de Cada Um o Seu Cinema, que se encontra em exibição. E também o reconhecimento de autores como João César Monteiro.
O trabalho João Bénard da Costa não se limitou ao cinema. Licenciado em Ciências  Histórico-Filosóficas, mas com a carreira universitária impedida pela PIDE, ele foi um dos fundadores da revista O Tempo e o Modo, uma das mais influentes do seu tempo (década de 60) sobre os intelectuais.
A João Bénard da Costa foi concedido o prestigiado Prémio Pessoa em 2001, e possuía as comendas de Officier des Arts et des Lettres de França e a Ordem do Infante D. Henrique. Em Setembro do ano passado o ministro da Cultura, José António Pinto Ribeiro condecorou-o com a medalha de Mérito Cultural.
Manuel Cintra Ferreira
23MAI2009 - Expresso

INVENTÁRiO
O PÁTIO DAS CANTIGAS
O Pátio das Cantigas, cuja realização confiou ao irmão Francisco Ribeiro/Ribeirinho, permitiu a António Lopes Ribeiro prosseguir o seu projecto de produção contínua. Além das vantagens de trabalho para técnicos e actores, sobressaía uma divulgação paralela - na revista Animatógrafo, que dirigia - e a eficaz distribuição - pela sua modelar Sociedade Portuguesa de Actualidades Cinematográficas / SPAC. A sede da empresa, que tinha um serviço de Selecção de Intérpretes, ficava na Alameda das Linhas de Torres, defronte à Tobis Portuguesa e à Lisboa Filme - cujos estúdios/laboratórios estavam alugados sem interrupção.
Após um período de euforia, o processo entrou em erosão. Se O Pai Tirano logrou muito sucesso, O Pátio das Cantigas - estreado em Janeiro de 1942 - obteve êxito mais modesto. Insistiu-se em argumento/diálogos originais, sempre pelo grupo Ribeiro, Vasco Santana, Ribeirinho, e numa equipe uniforme - César de Sá como director de fotografia, Roberto Araújo na decoração, a montagem de Vieira de Sousa, e João Martins em fotógrafo de cena. Várias zonas da capital reivindicaram o lendário Pátio; ora, não passava dum cenário de Araújo - síntese arquitectónica de Lisboa, e espaço funcional construído nos terrenos da Tobis, a partir do qual se desmultiplica a acção, paralela ou envolvente.
Nessa essencial fusão, característica e artificial, reside outro dos atributos - a componente visual, em simultâneo ao regime musical, explorado por Frederico de Freitas. Ao tom de opereta - ou não se tratasse de Cantigas! - corresponde um cúmulo histórico de vedetas: familiarmente Santana e Ribeirinho, o portentoso António Silva, um nóvel António Vilar, a simpática Maria das Neves, o irresistível Carlos Alves, Carlos Otero e Laura Alves, Barroso Lopes, a segura Maria Paula, a loira Graça Maria, e a canora Maria da Graça, aparentemente chegada do Brasil. Ao Rio de Janeiro, O Pátio das Cantigas só chegou em 1947, sobretudo para a colónia lusitana, tendo a imprensa considerado «um filme bem antigo»…

BREVÁRiO
A Esfera dos Livros edita Guerreiros Medievais Portugueses de Miguel Gomes Martins. 

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