sábado, novembro 17, 2018

IMAGINÁRiO #744

José de Matos-Cruz | 24 Fevereiro 2020 | Edição Kafre | Ano XVI – Semanal – Fundado em 2004

PRONTUÁRiO

FATALIDADE
Ultrapassando a mera cinefilia sobre uma obra de culto, o fenómeno de Princesa Mononoke/Princess Mononoke estende-se às virtualidades duma apreensão ocidental sobre um filme genuinamente asiático, e em especial de características gráficas. Nos Estados Unidos, foi considerada a mais importante animação oriunda do Japão, até à data, permitindo ainda revelar Hayao Miyazaki, um realizador talentoso e sensível, com inspiração essencial no imaginário tradicional e popular do seu país.
Estreada em Tóquio em 1997, logrou o segundo maior sucesso comercial do ano. A Miramax decidiu recriar integralmente uma Versão Inglesa (1999), mantendo implícita fidelidade ao espírito original. Por sugestão de Quentin Tarantino, seu admirador, foi incumbido da supervisão Neil Gaiman, prestigiado escritor britânico de quadradinhos. Profundo conhecedor das mitologias universais, tal como repercute em The Sandman, Gaiman devotou-se a uma intensa pesquisa sobre o lendário nipónico, à época ritualizada por Princesa Mononoke. Em causa, a «floresta oriental do Século XVI», luxuriante e fantástica. Quando os domínios naturais são devastados pelo clã Tatara, o Grande Deus atribui extraordinários poderes às suas divindades, assim aparecendo criaturas medonhas, ilusórias. Por fatalidade, uma delas é morta pelo jovem Ashitaka, o último guerreiro do clã Emishi, em risco de extinção…
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CALENDÁRiO

07JUL-14OUT2018 - Museu Municipal de Tavira expõe, com Museu Calouste Gulbenkian / Colecção Moderna, Mulheres Modernas Na Obra de José de Almada Negreiros (1893-1970), sendo curadora Mariana Pinto dos Santos.
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24JUL-07OUT2018 - Museu Municipal de Caminha apresenta, com Museu de Arte Contemporânea de Serralves, Quase Tudo o Que Sou Capaz - exposição de pintura, desenho e escultura (1961-1989) de Ângelo de Sousa (1938-2011), sendo curadora Paula Fernandes. IMAG.91-349-373-393-604

26JUL-22AGO2018 - Em Lisboa, Sociedade Nacional de Belas-Artes apresenta, na Galeria Pintor Fernando Azevedo, O Espaço Onde Todos Cabem - exposição de pintura de Ana Ruepp.

1923-01AGO2018 - Maria Celeste Rebordão Rodrigues, aliás Celeste Rodrigues: Fadista portuguesa, irmã de Amália Rodrigues - «Nunca se meteu na minha carreira artística, felizmente. Se não, eu tinha desistido. Canto à minha maneira, canto as minhas cantiguinhas. Como eu sinto. Nunca a imitei. Tentei fugir à maneira de ela cantar… Há tantos alfaiates. Eu não tinha de ser como ela».

07AGO-04SET2018 - Em Lisboa, Instituto Cultural Romeno expõe Manifesto de Mihai Ţopescu (Roménia).

PARLATÓRiO

Sermões
A escolha é obra da graça, como diz o Apóstolo: «No tempo presente subsiste um resto, por causa da escolha da graça». E acrescenta: «Se isto foi pela graça, não foi pelas obras; de outra sorte, a graça já não seria graça».
Ouve-me, ó ingrato, ouve-me! «Não fostes vós que me escolhestes, mas eu que vos escolhi». Não tens razão para dizer: fui escolhido porque já acreditava. Se acreditavas nele, já o tinhas escolhido. Mas ouve: «Não fostes vós que me escolhestes». Não tens razão para dizer: antes de acreditar, já realizava boas acções, e por isso fui escolhido. Se o Apóstolo diz: «O que não procede da fé é pecado», que obras boas podem existir anteriores à fé? Ao ouvir dizer: «Não fostes vós que me escolhestes», que devemos pensar? Que éramos maus e fomos escolhidos para nos tornarmos bons, pela graça de quem nos escolheu. A graça não teria razão de ser, se os méritos a precedessem. Mas a graça é graça. Não encontrou méritos, foi a causa dos méritos. Vede, caríssimos, como o Senhor não escolhe os bons, mas escolhe para fazer bons.
«Eu vos escolhi e vos constituí para que vades e produzais frutos, e o vosso fruto permaneça».
Santo Agostinho
- Comentários ao Evangelho de São João

PARLATÓRiO

Quando eu era mais jovem, a arte era uma coisa solitária. Sem galerias, nenhum coleccionador, nenhum crítico. Nenhum dinheiro. Entretanto, foi uma época de ouro. Pois não tínhamos nada a perder, e sim um sonho para realizar. Hoje, não é a mesma coisa. É uma época de muita conversa, de actividade, de consumismo. O que é melhor para a sociedade como um todo, não me aventuro a conjecturar. Mas eu sei que muitos dos que são induzidos neste tipo de vida estão, desesperadamente, em busca daqueles momentos de tranquilidade, nos quais nos podemos refazer e crescer. Devemos todos ter esperança de encontrá-los.
Mark Rothko
ANUÁRiO

354-430 - Aurélio Agostinho, dito de Hipona, aliás Santo Agostinho: Escritor, filósofo, teólogo e bispo latino - «A esperança tem duas filhas lindas, a indignação e a coragem; a indignação ensina-nos a não aceitar as coisas como estão; a coragem, esclarece-nos sobre o modo de as mudar». IMAG.19-34-116-227-282-481

MEMÓRiA

FEV1630-1684 - Josefa de Ayala Cabrera Figueira, aliás Josefa de Óbidos: Pintora portuguesa barroca, nascida em Espanha e consagrada pelos trabalhos de inspiração religiosa e pelas naturezas-mortas; raro exemplo de mulher que, à sua época, exercia o ofício, assinava e datava os seus quadros - que «traduzem a decepção de quem esperava muito mais e não achou… Não tivesse a artista tanto nome e os pareceres dos críticos seriam mais benévolos, pois sua pintura, embora sem nada excepcional, possui relativo interesse» (Fernando de Pamplona). IMAG.264-475-567

1903-25FEV1970 - Markus Rothkowitz, aliás Mark Rothko: Pintor russo, naturalizado americano - «Um quadro ganha vida, na presença do espectador que for sensível, e cuja consciência lhe atribui uma outra dimensão e amplitude». IMAG.269-436

29FEV1920-2016 - Simone Renée Roussel, aliás Michèle Morgan: Actriz francesa de teatro, cinema e televisão - «Espanta-me como os seus olhos se podem tornar duros, a sua boca insolente e a sua voz cruel» (Robert Chazal - 1957). IMAG.655

BREVIÁRiO

Dom Quixote edita Manuel Maria Barbosa du Bocage [1765-1805] - Antologia de Poesia Erótica; organização de Fernando Pinto do Amaral.
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GALERiA

Mulheres Modernas
A exposição Mulheres Modernas Na Obra de José de Almada Negreiros reúne 55 desenhos e pinturas – a maioria pertencente ao acervo da Colecção Moderna do Museu Calouste Gulbenkian –, assim como excertos da obra literária do artista e textos publicados nos jornais e revistas da época.
A mulher moderna emancipada está presente na produção artística de Almada: na moda dos anos vinte ou através da representação de mulheres fumadoras, sedutoras, rebeldes, artistas, cantoras, bailarinas, atrizes, desportistas ou acrobatas. No entanto, ainda subiste o olhar masculino e voyeur que dominou a história da arte, tornou o corpo feminino em objeto e fez dele parte substancial da sua tradição.
A figuração feminina enquanto força de trabalho também é evocada através da representação de mulheres do mar, cuja expressão endurecida e sofrida anuncia preocupações realistas, presentes na obra plástica de Almada dos anos trinta.

Manifesto

Ao longo de 2017, Mihai Ţopescu desenvolveu, na localidade de Poienari, Roménia, um projecto de land art intitulado Paradise Forest, e que constou da coloração de uma floresta para que o espetador se deparasse com um espetáculo inédito, que fizesse soar um sinal de alarme em relação à poluição ambiental, desmatamento e necessidade de proteger a natureza.
«A floresta está encarnada! O artista enche-nos com todos os seus sentimentos, enquanto a natureza, a partir da qual Mihai Ţopescu cria a sua realidade, nos chama para o seu templo. Aqui, no templo cheio de colunas coloridas, subimos no silêncio de um dia de descanso imaculado», comentou o crítico Adrian Buga.
O projeto de land art foi transposto para uma escultura-objeto-instalação, em jeito de Manifesto.
Segundo Mihai Țopescu, «é uma luta pessoal com os meus semelhantes. Pretendo fazê-los perceber que, mal pomos o pé num sítio, destruímo-lo. Enquanto artista, não posso sair à rua e manifestar-me de uma forma clássica, mas tento fazê-lo através de símbolos».

EXTRAORDINÁRiO

OS SOBRENATURAIS - Folhetim Aperiódico

A MELANCOLIA FIXA DO CONTROLADOR DE ONDAS - 9

Ali, Damião de Magalhães foi então surpreendido por uma populaça que, aos morras e vivas, se acotovelava entre a língua das águas e uma edificação monumental. O efémero e o eterno. Do morro descampado, em transe, que um dia ele conhecera, mantinha-se apenas uma porção de ervas e árvores, posta à qual aquela turba humana pudesse restituir um frémito providencial.
Continua
 

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