PRONTUÁRiO
TRANSGRESSÕES
Uma
das virtualidades mais fascinantes, no tradicional imaginário
fantástico, diz respeito ao robô - criatura metálica, concebida à
imagem do homem, primordialmente para o servir, com fins pacíficos
ou agressores. Essa expectativa, herdada do Século XIX,
transformar-se-ia em ameaça, durante a Idade de Ouro, numa alusão
ao lendário Frankenstein
de Mary Shelley. Virando-se contra o inventor, motivado por desígnios
totalitaristas, intruso alienígena ou adquirindo instintos sexuais,
o robô assumiu pois uma consciência, sendo fisicamente
invulnerável. Em 1950, e por vinte anos, Isaac Asimov celebrou a Era
Clássica, com as Leis do Comportamento Robótico - a programar no
cérebro de cada um, e assegurando a sua submissão ao homem. Aceites
pela generalidade dos autores, mesmo quando exploram uma eventual
transgressão, tais normas culminariam as potencialidades romanescas
da moderna ficção científica, expandindo-se finalmente ao grande
ecrã, com O
Homem Bicentenário
(1999) de Chris Columbus. Em causa está, precisamente, uma novela de
Asimov & Robert Silverberg, The
Positronic Man,
adaptada por Nicholas Kazan. A acção decorre na primeira década
deste novo milénio, referenciada pelos dois primeiros preceitos do
código
de Asimov: 1 - «Um robô não pode ferir um ser humano ou, através
da sua inacção, causar-lhe qualquer mal»; 2 - «Um robô deve
obedecer a todas as ordens humanas, excepto quando estas forem contra
a primeira regra». Eis o dilema em que Andrew se
debaterá…IMAG.5-365
CALENDÁRiO
07DEZ2017-26FEV2018
- Em Lisboa, Museu Calouste Gulbenkian expõe Olho
Zoomórfico / Camera Trap de
Mariana Silva, sendo curadora Leonor Nazaré.
12JAN-24FEV2018
- Em Lisboa, Galeria Pedro Cera apresenta Natural
Yogurt Paintings - exposição
de pintura de Frank Nitsche (Alemanha).
18JAN-24FEV2018
- Em Lisboa, Galeria Cristina Guerra apresenta Reel
Time - exposição de vídeo,
filme e performance de Julião Sarmento.
IMAG.33-341-427-437-524-554-625-631-646
19JAN-10MAR2018
- Em Lisboa, Galeria 3 + 1 apresenta Atrás
do Pensamento - exposição
de pintura de Tiago Baptista.
19JAN-17MAR2018
- Em Lisboa, Galeria Jeanne Bucher Jaeger apresenta Les
Naïfs - exposição de
pintura de André Bauchant (1873-1958) e Louis-Auguste Déchelette
(1894-1964).
1920-22JAN2018
- Maria Germana Dias da Silva Moreira Tânger Corrêa, aliás Maria
Germana Tânger: Declamadora portuguesa, poetisa, actriz, encenadora
e professora - «Foram 40 anos muito vividos, muito sofridos, muita
divulgação dos poetas por esse mundo fora, muito Fernando Pessoa!»
(1999).
1914-23JAN2018
- Nicanor Segundo Parra Sandoval, aliás Nicanor Parra: Poeta e
matemático chileno, distinguido com o Prémio Cervantes (2011) -
«Durante meio século, / a poesia foi / o paraíso do tonto solene,
/ até que cheguei eu / e instalei-me com a minha montanha russa.».
24JAN-21ABR2018
- Arquivo Fotográfico Municipal de Lisboa expõe Compêndio
de Observações Fotográficas - Luz e Cegueira
de Valter Ventura.
26JAN-31MAR2018
- No Centro Cultural de Cascais, Fundação D. Luís I expõe
Fundação Bienal de Arte de
Cerveira: Uma Antologia,
sendo curadora Luísa Soares de Oliveira.
PARLATÓRiO
Uma
palavra resume e define a rota medieval: o perigo. Por toda a parte,
no seu percurso, riscos, a incerteza do amanhã. Perigo dos homens,
perigo da natureza, rigores do clima, privação. Perigos previstos,
imaginados, temidos, mas aceitos; nos primeiros tempos misteriosos,
desconhecidos, depois, quando se está mais bem informado pelos que
retornaram, perigos avaliados, medidos, analisados, menos temidos
porque se sabe mais como preservar-se. Iguais de resto dos dois
lados, no Extremo-Oriente e no Ocidente, mais agudos somente no no
man’s land que os separa.
Jean-Paul
Roux
MEMÓRiA
21JUN1839-1908
- Joaquim Maria Machado de Assis: Escritor brasileiro - «A vida é
uma ópera e uma grande ópera. O tenor e o barítono lutam pelo
soprano, em presença do baixo e dos comprimários, quando não são
o soprano e o contralto que lutam pelo tenor, em presença do mesmo
baixo e dos mesmos comprimários. Há coros numerosos, muitos
bailados, e a orquestração é excelente…» (Dom
Casmurro - 1899).
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25JUN1109-1185
- Afonso I, aliás D. Afonso Henriques: Fundador do Reino de Portugal
- «…um poder mais alto se alevanta...» (Luís de Camões - Os
Lusíadas).
IMAG.48-61-62-140-150-152-265-295-340-346-374-
541-559
1958-25JUN2009
- Michael Joseph Jackson, aliás Michael Jackson: Cantor, compositor
e dançarino americano - «Tinha tudo: talento, graça,
profissionalismo e dedicação… Perdi o meu irmãozinho; parte da
minha alma morreu com ele» (Quincy Jones). IMAG.204-256-411-548-672
1665-27JUN1729
- Elisabeth-Claude Jacquet de la Guerre, aliás Elisabeth Jacquet de
la Guerre: Compositora e executante musical francesa - «Para a
posteridade, fica a fama e parte de uma obra que representa um
momento perfeitamente pivotante na produção musical do seu tempo: o
da réunion des gouts
entre os estilos francês e italiano, em que se distinguiu e de que
são exemplo precoce as suas galantes sonatas e suites
para violino e cravo» (João Santos). IMAG.631
1925-29JUN2009
- Jean-Paul Roux: Historiador francês, investigador da mitologia dos
povos turco e mongol, especialista em história comparada das
religiões - «Antes de virem para a terra, as almas dos humanos
residem no céu, onde estão pousadas nos cimos celestes da árvore
cósmica, sob a forma de pequeninos pássaros». IMAG.258-497
30JUN1939-2014
- José Emilio Pacheco: Ficcionista e poeta mexicano, autor de Irás
y No Volverás (1973),
distinguido com o Prémio Cervantes (2009) - «Mi único tema es lo
que ya no está / Y mi obsesión se llama lo perdido / Mi punzante
estribillo es nunca más / Y sin embargo amo este cambio perpetuo /
este variar segundo tras segundo / porque sin él lo que llamamos
vida / sería de piedra.» (Contraelegía).
IMAG.498
VISTORiA
Este
último capítulo é todo de negativas. Não alcancei a celebridade
do emplasto, não fui ministro, não fui califa, não conheci o
casamento. Verdade é que, ao lado dessas faltas, coube-me a boa
fortuna de não comprar o pão com o suor do meu rosto. Mais; não
padeci a morte de D. Plácida, nem a semidemência do Quincas Borba.
Somadas umas coisas e outras, qualquer pessoa imaginará que não
houve míngua nem sobra, e conseguintemente que saí quite com a
vida. E imaginará mal; porque ao chegar a este outro lado do
mistério, achei-me com um pequeno saldo, que é a derradeira
negativa deste capítulo de negativas: – Não tive filhos, não
transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria.
Machado
de Assis
-
Memórias Póstumas de Brás
Cubas (1881)
BREVIÁRiO
Orfeu
Negro edita Desenhos Efémeros
de António Jorge Gonçalves.
IMAG.19-169-183-195-227-252-292-296-310-342-356-430-433-498-521-551-595-665-675-706
Cinemateca
Portuguesa edita em DVD, Lisboa,
Crónica Anedótica (1930) de
Leitão de Barros (1896-1967).
IMAG.68-76-78-82-94-95-103-115-130-154-161-164-175-180-221-222-227-232-239-242-245-269-297-307-327-370-395-436-500-583-601-606-616-638-639-666-675
E-Primatur
edita A Vida e o Sonho
de Raul Brandão (1867-1930).
IMAG.48-161-293-301-342-350-384-394-400-431-495-582-602-641-642-668-670-694-700-711
Dom
Quixote edita Portugal de
Miguel Torga (1907-1995).
IMAG.21-142-165-168-217-261-288-307-342-352-499-538-610-622
Dom
Quixote edita Terra de Neve de
Yasunari Kawabata (1899-1972); tradução de Armando da Silva
Carvalho.
IMAG.285-366-668-695-710
COMENTÁRiO
LISBOA,
CRÓNICA ANEDÓTICA
Em
1930, Leitão de Barros revelou Lisboa,
Crónica Anedótica -
consagrando-se a tendência para converter a capital em inspiração
privilegiada, aqui figura única e típica. Sob o lema Como
Se Nasce… Vive… Morre Em Lisboa…,
a Crónica
é constituída por diversos episódios de variável duração,
correspondendo às diferentes facetas da grande urbe, documentais ou
de ficção ligeira - humorísticos, pitorescos, históricos, de
testemunho. Com produção de Salm Levy Jr, e António Lopes Ribeiro
como assistente, Feliciano Santos escreveu os intertítulos. Artur
Costa de Macedo operou a fotografia, com Manuel Luís Vieira, César
de Sá, e Paul Martillièri nas imagens ao retardador - as primeiras
sobre motivos nacionais. A estreia decorreu no São Luiz e no Tivoli,
a 1 de Abril de 1930, com distribuição da Companhia Cinematográfica
de Portugal. Aliciante, o desempenho de actores maiores do elenco
teatral (Adelina Abranches, Chaby Pinheiro, Alves da Cunha, Estevão
Amarante, Nascimento Fernandes, Teresa Gomes) ou que vieram a
afirmar-se (Rosa Maria, Oliveira Martins, Vasco Santana, Maria
Lalande, Augusto Costa/Costinha, Beatriz Costa) encarnando, com
persuasão e naturalidade, gente característica ou popular.
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