sexta-feira, abril 06, 2018

IMAGINÁRiO #710

José de Matos-Cruz | 08 Junho 2019 | Edição Kafre | Ano XVI – Semanal – Fundado em 2004

PRONTUÁRiO

ESPIONAGENS
Durante décadas, a divisão do mundo em dois grandes blocos - os países do leste, as democracias ocidentais - favoreceu e consolidou o privilégio das agências de espionagem, com um poder quase ilimitado. O termo da Guerra Fria tornou mais sofisticada a respectiva intervenção, pelas margens da impunidade. A queda do Muro de Berlim, as roturas na Cortina de Ferro, a dissolução da União Soviética, alteraram profundamente o xadrez político internacional. Mesmo nos Estados Unidos, o estatuto e as dotações orçamentais dos serviços secretos passaram a suscitar uma importante controvérsia. Alguns dos seus responsáveis parecem inconformados com tal situação - enquanto os principais desafios resultam, sobretudo, de chantagens subversivas, do tráfico de armas ou de drogas…
Foi neste panorama que em 1996, do pequeno ao grande ecrã, se precipitou uma excitante Missão: Impossível, pelo veterano Brian DePalma - dando origem a um novo fenómeno sequencial, e que já cinematizara outra popular série televisiva, Os Intocáveis (1987). Tom Cruise protagonizou o novo herói de Missão: Impossível - Ethan Hunt, um agente hábil e corajoso, acusado de corrupção e perseguido pela própria Impossible Mission Force. Tudo, porque só ele terá sobrevivido a uma operação forjada - para revelar um traidor infiltrado na organização. Acossado, recorrendo a processos de risco extremo, Hunt decide então resgatar a honra pessoal e desmascarar o inimigo - afinal o seu tutor, mítico e sacrificado comandante Jim Phelps! IMAG.101-134-452


CALENDÁRiO

28OUT2017-04FEV2018 - Em Lisboa, Atelier-Museu Júlio Pomar expõe Tawapayera de Júlio Pomar, Tiago Alexandre, Igor Jesus e Dealmeida Esilva, sendo curador SinopseAlexandre Melo.
IMAG.19-312-449-495-505-534-552-553-562-582-596-604-610-620-631-635-646-652-676

06JAN-27FEV2018 - Em Lisboa, Galeria Diferença apresenta Gardens - exposição de desenho de Luís Silveirinha.

11JAN-10MAR2018 - Em Lisboa, Galeria Filomena Soares apresenta Unbuilt Memories - exposição de escultura, fotografia e vídeo de Didier Fiúza Faustino.

13JAN-24FEV2018 - Em Oeiras, Livraria-Galeria Verney apresenta Mythos da Mesopotâmia - exposição de pintura de Hugo Claro.

18JAN-04MAR2018 - Em Lisboa, Fundação Arpad Szènes-Vieira da Silva apresenta Obra Prima - exposição de fotografia de Matthias Schaller.

VISTORiA

Passara o tempo. Todavia, não passava ele de modo diferente para cada um, seguindo atalhos diversos? Como um rio, o tempo para o homem às vezes escoa-se rapidamente, às vezes segue em ritmos mais lentos. Acontecia também nem sempre se escoar, mas permanecer ali a estagnar-se. Se o tempo cósmico se escoa à mesma velocidade para todos os homens, o tempo humano, este varia conforme cada um. O tempo escoa-se de modo semelhante para todos os seres humanos, mas cada homem move-se dentro dele de acordo com um ritmo que lhe é próprio.
Yasunari Kawabata
- Beleza e Tristeza (excerto)

Passámos da máquina mediática de concessões, controlada pelo Estado directa ou indirectamente, para a máquina mediática do mercado, em que a lei da oferta e da procura estabelece que os mais poderosos sempre acabem por controlá-la.
Manuel Vázquez Montalbán
- Manifesto do Planeta dos Macacos (excerto)
MEMÓRiA

1924-08JUN1989 - António Maria de Matos, aliás Tony de Matos: Cantor e actor português - «Cantou em quatro continentes, a sua voz está implantada em milhares de discos, o rosto surgiu na tela grande, a presença firmou-se na retina de quem o aplaude no teatro ou na televisão, quem o escuta nas mais diversas horas do dia penetrando em nossos lares.» (Antena - 1967). IMAG.483

1908-10JUN1979 - Joaquim Belford Correia da Silva, aliás Joaquim Paço d’Arcos: Ficcionista, poeta e ensaísta português - «Escrever é projectar-se além da Vida, / É vencer a Morte. / Um dia esta virá, de surpresa, ou tardia, / Mas uma coisa não levará, não reduzirá a cinzas, / E sobre ela a sua álgida mão não terá poder.» (Escrever É Vencer a Morte - excerto). IMAG.219-230-529-662

1907-11JUN1979 - Marion Michael Morrison, aliás John Wayne: Actor americano - «O amanhã é o mais importante que temos na vida. Chega, sempre, à meia-noite. É puro e perfeito, ao confiar-se em nossas mãos. E traz a esperança de que tenhamos aprendido algo no dia de ontem». IMAG.23-56-85-114-132-230-362-596-612

1924-13JUN2009 - Irisalva Moita: Arqueóloga portuguesa, historiadora, museóloga, olissipógrafa, membro da Academia Nacional de Belas Artes, pioneira de escavações em contexto urbano, realizadas no Teatro Romano de Lisboa, Hospital Real de Todos-os-Santos ou Necrópole Romana na Praça da Figueira, responsável por exposições de referência como O Culto de Sto. António, Na Região de Lisboa, Lisboa e o Marquês de Pombal, Lisboa Quinhentista. A Imagem e a Vida Na Cidade e Faianças de Rafael Bordalo Pinheiro. IMAG.256-466

14JUN1899-1972 - Yasunari Kawabata: Escritor japonês, distinguido Prémio Nobel da Literatura em 1968 - «A cameleira, quatro vezes centenária, exibia a esplêndida profusão das suas flores. Os raios do sol poente eram como que aspirados pelo interior da árvore, de tal forma que parecia reinar dentro daquela massa de flores uma quente exalação. Embora não houvesse um vento por aí além, a extremidade dos ramos floridos abanava docemente.» (A Casa das Belas Adormecidas - excerto). IMAG.285-366-668

14JUN1939-2003 - Manuel Vázquez Montalbán: Escritor espanhol - «Por vezes, costumo autoclassificar-me de conservador, porque não corrigi a minha visão do mundo desde que fiz cinquenta anos, tendo então decidido que já era responsável pela minha cara.» (Marcos: O Senhor dos Espelhos - excerto). IMAG.440

15JUN1949-2014 - Jorge Faustino Fallorca Gaspar, aliás Jorge Fallorca: Poeta e tradutor português, jornalista e radialista - «Contaram-me que as letras descansam de lado, nas páginas macias dos livros antigos. / Outros afirmam-me que os textos mudam ao sabor das edições, e que nenhuma se compara / à que se leu primeiro.» (Telhados de Vidro - excerto). IMAG.411-507

VISTORiA

Numa tarde de Julho de 1926 atravessava as florestas de Cheringona, no território da Companhia de Moçambique, um expresso de uma só carruagem da Trans-Zambézia Railway.
Regressava da Zambézia à Beira o governador do Território. Acompanhavam-no, além dos seus ajudantes, o autor destas linhas e uma pessoa estranha à comitiva: Carlos Sobral.
Carlos Sobral era ao tempo director em África da «Mozambique Industrial & Commercial Coy. Ltd.», um desdobramento, para fins comerciais, da Companhia de Moçambique.
Naquele pequeno salão da carruagem de caminho-de-ferro conversaram durante longas horas da monótona viagem, esses dois homens, tão profunda e apaixonadamente portugueses, que o destino por ironia, mas por útil ironia, colocara a dirigir interesses que meses mais tarde se haviam de patentear tão opostos aos nacionais.
Eram homens de diferentes idades: o governador aproximava-se dos cinquenta, Carlos Sobral andaria pelos trinta.
Mourejando por terras onde frequentemente o português se avilta, adoptando os hábitos de indolência a que o clima convida, os usos mesquinhos próprios dos meios pequenos, esses dois homens, ao contrário, mantinham íntegras em si as melhores qualidades da raça. Eram dois verdadeiros portugueses.
Carlos Sobral estava em conflito aberto com os dirigentes londrinos da companhia que superintendia em África. Admitia como muito provável a hipótese de repudiar a situação em que trabalhava. Era um lugar magnífico, e muitos outros homens, em circunstâncias idênticas, transigiriam em tudo para não perder a situação que usufruíam. Ele não transigia em nada e ao perguntarem-lhe o que iria fazer no caso de se encontrar desempregado, respondia tranquilo, cheio de confiança e de optimismo: trabalhar. E já se expandia por todo um projecto de se dedicar à cultura do solo, à criação de gado, na vida rude e fatigante do mato, que ele tanto amava.
É preciso conhecer certos territórios de África e a eterna dependência em que o português ali vive do Estado ou das grandes companhias, alheado por completo das qualidades de iniciativa que fazem dele um elemento tão útil no Brasil, é preciso conhecer aqueles meios de parasitagem e de covardia, para admirar em todo o seu valor a serena confiança com que Carlos Sobral, por ser português de «antes quebrar que torcer», trocava uma cómoda e rendosa situação pela tão mais humilde e ingrata profissão de pequeno agricultor.
Nessa tarde – curiosa coincidência do acaso! – esses mesmos homens perante cuja arrogância Sobral não cedia, assinavam em Londres o terceiro e último contrato sobre o porto da Beira. Meses decorridos, por uma triste e dolorosa fatalidade, Carlos Sobral morria na Zambézia, vítima de si próprio, da sua coragem magnífica.
Alguns dias depois do seu falecimento chegavam à Beira, para conhecimento do governador, e para serem executados, os contratos do porto.
O governador não os executou. Era a vez dele, agora, num assunto de muito maior gravidade, assumir a atitude para a qual, meses atrás, serenamente, dignamente, Carlos Sobral se encaminhava.
Joaquim Paço d’Arcos
- Herói Derradeiro (Introdução - excerto)

BREVIÁRiO

Saída de Emergência edita Terrarium de João Barreiros e Luís Filipe Silva. IMAG.435-455-478

Relógio D’Água edita Roma de Nikolai Gógol (1809-1852); tradução de Nina Guerra e Filipe Guerra. IMAG.118-219-223-361-474-593-637-699

Douda Correria edita Nada Natural de Gary Snyder; tradução de Nuno Marques e Margarida Vale de Gato.

Companhia das Letras edita A Rosa do Povo de Carlos Drummond de Andrade (1902-1987). IMAG.79-384-392-543-623
 

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