José
de Matos-Cruz | 16 Novembro 2018 | Edição Kafre | Ano XV – Semanal
– Fundado em 2004
PRONTUÁRiO
MARAVILHAS
«Naufragar,
só por si, já é terrível, mas naufragar em algo que não existe,
é ainda mais terrível…» - assim introduz Fred o desafio heróico
de Philémon,
ao precipitar-se num «mundo maravilhoso». Definição esta
atribuída por René Goscinny, em 1965, responsável pela revista
Pilote
quando O Náufrago do “A”
/ Le Naufragé du “A” lhe
foi proposto, reclamando Fred o argumento e a ilustração. Em boa
hora, pois garantiam-se as plenas características de uma obra-prima
incomparável - graças à imaginação prodigiosa de Fred, aliás
Frédéric Othon Théodore Aristidès (1931-2013), um dos mais
talentosos / virtuais artistas dos quadradinhos franceses para
adultos. Onírico, absurdo, surreal, satírico, Fred concebe /
ilustra O Náufrago do “A”,
espraiado entre umas misteriosas ilhas do Atlântico… Narração
fascinante, expressão estilizada - uma fábula clássica, e cuja
actualidade testemunha, com sugestão cultural / nostálgica, as
contradições e os paroxismos da nossa sociedade, através da
volúvel identidade humana. IMAG.459-495
INVENTÁRiO
Guilherme
Centazzi
Em
1840 foi publicado em Lisboa, pela Tipografia de António José da
Rocha, o primeiro tomo do romance O
Estudante de Coimbra, do
médico português Guilherme Centazzi, com o subtítulo Relâmpago
da História Portuguesa Desde 1826 até 1838.
No ano seguinte seriam publicados mais dois tomos.
Sendo
a segunda obra de ficção em prosa de Centazzi - que havia
publicado, em 1838, Carlos e
Julieta -, O
Estudante de Coimbra
constitui um marco fundamental, pela sua estrutura e estilos
narrativos, na Literatura Portuguesa, devendo considerar-se o
pioneiro romance moderno escrito por autores portugueses.
Com
efeito, embora ainda em finais dos anos 30 do século XIX tenham
começado a surgir diversos contos em revistas literárias,
nomeadamente n’O Panorama
e no Mosaico,
considerava-se, até agora, que fora Alexandre Herculano e Almeida
Garrett que tinham introduzido em Portugal o romantismo, quer através
de Eurico, o Presbítero
quer com O Arco de Santana
e Viagens na Minha Terra.
Porém, na verdade, o romance O
Estudante de Coimbra é, do
ponto de vista cronológico, anterior a todas estas obras de ficção.
Contudo,
por razões desconhecidas, nunca até agora este romance de Guilherme
Centazzi foi referenciado como a pioneira obra de ficção moderna
portuguesa, sendo omitida na generalidade dos ensaios literários e
académicos desde o Século XIX até aos nossos dias.
CALENDÁRiO
5MAI-08OUT2017
- Em Lisboa, Pavilhão Branco da Galeria Municipal apresenta O
Oco e a Emenda - exposição
de escultura de Paloma Bosquê (Brasil).
19MAI-17SET2017
- Em Lisboa, Museu Colecção Berardo expõe Aprender
a Viver Com o Inimigo de
Pedro Neves Marques, sendo curador Pedro Lapa.
20MAI-03SET2017
- Em Lisboa, Carpintarias de São Lázaro apresenta, no âmbito da
Capital Ibero-Americana de Cultura, Shadows
- exposição sobre fotografia de Alfredo Jaar (Chile).
13JUL-07OUT2017
- Em Lisboa, Museu do Dinheiro apresenta Marca
de Água - exposição de
escultura de Carla Rebelo.
20JUN1928-15JUL2017-
Martin Landau: Actor americano de cinema e televisão - «Ninguém
me conhecia… Apenas sabiam - produtores, realizadores, directores
dos estúdios - que eu era o sujeito de Missão
Impossível [1966]».
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COMENTÁRiO
A
MÁSCARA DE ZORRO
Forjado
por uma insinuante mescla entre sucesso e sortilégio, o culto dos
heróis corresponde aos valores em causa numa época mitificada, e às
virtualidades de uma reciclagem em cada período de crise ou
nostalgia. Estes vectores, que se afirmaram da memória popular aos
clássicos da literatura, lograram uma correspondência alusiva no
imaginário cinematográfico, sob o signo de Hollywood.
Assim,
raras personagens tiveram tal notoriedade e desempenho como Zorro, ao
longo de décadas. Recriado na sua autenticidade, alvo de versões
subvertoras, ou suscitando inúmeras interpretações apócrifas.
Afinal, esta figura irradiante, sombria, sugere todas as
potencialidades para exaltação: como um conceito, entre os
desígnios do bem e do mal; como um símbolo, nos desafios da justiça
contra a exploração.
Mas
Zorro possui, também, os sinais peculiares mais representativos:
quanto à sua história, sobre a realidade envolta, através do
aspecto e no estigma ritual… Trata-se de um aventureiro romântico,
ou de um misterioso vingador? Quanto ao romanesco original, resultou
dos talentos do escritor Johnston McCulley - em episódios publicados
na revista All Story,
desde 1919 - inspirado em The
Scarlet Pimpernel.
No
ano seguinte, as proezas de Zorro agitavam o ecrã - com Douglas
Fairbanks, dirigido por Fred Niblo. Noutras cerca de quarenta
transposições, sobressaem John Carroll (1937) em serial de William
Witney & John English, Tyrone Power (1940) por Rouben Mamoulian,
Frank Langella (1974) por Don McDougall, Alain Delon (1974) por
Duccio Tessari, ou George Hamilton (1981) numa paródia de Peter
Medak…
No
entanto, o filão estava latente há cerca de meio século - quanto
ao estímulo genuíno de garbo e bravura, ou às características
espectaculares. Até que, por 1992, Steven Spielberg adquiriu os
direitos à Família Gertz, que obtivera o exclusivo de McCulley em
1950. Aliando a Amblin à TriStar, Spielberg - apenas produtor - via
Andy Garcia como Zorro, privilegiando Mikael Salomon entre os
realizadores.
Ora,
o preciosista Salomon abdicou e, em 1994, emergiu um fenomenal Robert
Rodriguez. Porém, Spielberg optou por um director mais seguro e
convencional - Martin Campbell, e como protagonista impôs-se Antonio
Banderas - sex-symbol
latino na América. Este seria o primeiro hispânico a perfilar-se na
saga - e logo, caprichosamente, com A
Máscara de Zorro (1998), numa
assunção sucedânea.
MEMÓRiA
17NOV1928-2005
- Armand Pierre Fernandez, aliás Arman: Pintor e escultor
franco-americano - «O ser humano retrata-se a si mesmo, revela o seu
tempo, a sua ansiedade, os seus gritos, as suas lágrimas e as suas
gargalhadas». IMAG.65
1934-17NOV2008
- Guy Peellaert: Artista belga, pintor, ilustrador, fotógrafo e
autor de banda desenhada, criador de Les
Aventures de Jodelle
(1966) e Pravda,
la Survireuse (1968) - «Um
olhar crítico que jamais perde a sua frescura mesmo quando é feroz,
mesmo se agita o espantalho da violência e se preconiza que, um dia,
a dinamite fará tudo ir pelos ares… Reconhece-se um eco
profundamente universal no seu humor corrosivo, na sua sátira do
mundo mecanizado, da sociedade de consumo e dos falsos sentimentos
que ela engendra» (Henry Chapier). IMAG.225-461
1797-19NOV1828
- Franz Peter Schubert, aliás Franz Schubert: Compositor austríaco:
«Sinto-me o homem mais infeliz e desventurado deste mundo… Creio
que nunca voltarei a estar bem, e tudo o que faço para tentar
melhorar a minha situação, na realidade, torna-a pior» (1824).
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20NOV1808-1875
- Guilherme Centazzi: Escritor português, autor de O
Estudante de Coimbra (1840) -
«Sem dúvida, o melhor espécime da actual escola das belles
lettres portuguesas com que
até à data nos deparámos» (Thomas Carlyle - Fraser's
Magazine, 1848).
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21NOV1898-1962
- Bernardo Loureiro Marques, aliás Bernardo Marques: Artista
português, pintor, gráfico, ilustrador - «Os
gestos do início, inseguros, sem peso, aqui e ali postos como
armadilhas de imagens que em breve se precisam com outros, muitos,
sobrepostos, cruzados, ora sustidos como uma respiração súbita,
ora desencadeados com uma certeza imediata. Por eles passam a luz e a
sombra, e o corpo das coisas é deles feito» (Fernando de Azevedo).
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1924-22NOV1978
- Vasco Manuel Veiga Morgado, aliás Vasco Morgado: Empresário
teatral e actor do cinema português - «…Era um homem charmoso, um
galã… Uma pessoa adorável, criou-se entre nós uma amizade que
durou até ao fim da vida. A morte do Vasco pode ser a primeira que
me marcou» (Ana Zanatti). IMAG.151-203-363-467
1883-23NOV1958
- Johnston McCulley: Escritor canadense, autor de Zorro,
aparecido na revista All Story
em 1919 - «Todos usam máscaras, em sociedade… Tem a ver com o
modo como as pessoas se manifestam, como se comportam… É algo a
que todos nós recorremos». IMAG.71-87-204-209-405
BREVIÁRiO
Dom
Quixote edita A Vegetariana de
Han Kang; tradução de Maria do Carmo Figueira.
Guerra
& Paz edita Madame Bovary
de Gustave Flaubert
(1821-1880); tradução de Helder Guégués.
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Livros
do Brasil edita O Mito de
Sísifo de Albert Camus
(1913-1960): tradução de Urbano Tavares Rodrigues.
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Sony
Music Portugal edita em CD, sob chancela Columbia Records, Lazarus
Cast Album por Original New
York Cast, David Bowie (1947-2016).
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