José
de Matos-Cruz | 24 Outubro 2017 | Edição Kafre | Ano XIV –
Semanal – Fundado em 2004
PRONTUÁRiO
CREPÚSCULOS
Agente
da CIA treinado na violência e na destruição, Al Simmons trabalhou
para o governo americano, em missões que provocariam o massacre de
inocentes. Quando põe em causa tais proezas - já casado e feliz,
esperando abandonar a funesta profissão - Simmons é vitima de
traição e deslealdade dos superiores, representados no nefando
chefe Jason Wynn, acabando por desaparecer num terrível holocausto.
Até que as forças do submundo enviam a sua alma de volta à Terra,
mas já não é o mesmo. Nem sequer uma pessoa. Transformou-se num
monstro, com aspecto demoníaco e ávido de punição. Renascido,
inexorável, sem princípios aparentes, Spawn tem de lutar contra o
negro desígnio que lhe deu nova vida, de modo a evitar a chegada do
Armagedão - pelo seu próprio regresso…
Spawn foi
concebido e ilustrado por Todd McFarlane, um prestigiado artista de
banda desenhada em viragem de carreira, pelo início dos anos ’90,
após ter reactivado o futuro de vigilantes clássicos, como
Spider-Man
dos Marvel Comics.
Sob
chancela Image Comics, Spawn
trouxe consigo a materialização de um super-herói anacrónico e
horripilante, cuja acção dilacera os limites do bem e do mal - um
universo em transe, mutante, no qual se tornou este mundo, entre os
sortilégios demoníacos e um paraíso idealizado.
IMAG.3-38
CALENDÁRiO
03JUN-30SET2016
- No Estoril, Fundação Luís I apresenta no Espaço Memória dos
Exílios, com o apoio da Sociedade Portuguesa de Autores/SPA,
Desassossegos
da Memória
- exposição de Inácio Ludgero (fotografia) e Rosa Llórden
(pintura). IMAG.629
1921-31JUL2016
- Mário Alberto Freire Moniz Pereira, aliás Professor Moniz
Pereira, aliás Senhor
Atletismo:
Desportista português, atleta, praticante de várias modalidades,
treinador, professor, autor musical e pianista - «Dêem-nos as
melhores condições, que obteremos iguais resultados» (1975).
03AGO-17SET2016
- Câmara
Municipal de Braga apresenta, em parceria com o Núcleo Fotográfico
do Arquivo Municipal de Lisboa, a exposição de fotografia Braga
de Artur Pastor
(1922-1999), na Casa dos Crivos (A
Alma e as Gentes)
e no Museu da Imagem (Os
Lugares da Memória).
1923-17AGO2016
- Arthur Hiller: Cineasta americano de origem canadense, director
de televisão, presidente da Academia
de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood (1993),
realizador de Uma
História de Amor
/ Love
Story
(1970) - «Contar histórias faz parte da condição humana. Os seus
fundamentos são cerebrais, emocionais, colectivos, psicológicos. Um
dos objectivos do narrador é insinuar no espírito do público algo
que o sensibilize e, sobretudo, atraia a um nível que lhe seja
irresistível» (2004). IMAG.117-294
18AGO-23SET2016
- Em Lisboa, Instituto Cultural Romeno apresenta O
Jardim Com Anjos -
exposição de escultura, cerâmica e pintura de Silvia Radu.
10SET2016
- Em Lisboa, e integrado no Festival Motel X, São Jorge exibe O
Segredo das Pedras Vivas (2016)
- filme de longa metragem realizado por António de Macedo, em
remodelação da sua série televisiva O
Altar dos Holocaustos (1992),
produzida por Cinequanon; imagem restaurada a partir dos negativos
originais, e novos som, música e montagem, a cargo de Kintop.
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PARLATÓRiO
Sinto,
por detrás do destino trágico do homem moderno, a natureza bela e
eterna que não se interessa de maneira nenhuma pelas nossas
tragédias efémeras. Somos sufocados pela angústia, não
respiramos, sentimos, mais do que nunca, a necessidade de abrir uma
pequena janela para ver, em um breve clarão, o céu, as estrelas, o
mar, a primavera: mas, sobre tudo, a pequena janela fecha-se, e
ficamos novamente perante os demónios das trevas que nos combatem.
Lançar um olhar breve e violento sobre a natureza, entre dois gritos
de luta e de angústia, torna-se cada vez mais, eu creio, uma fuga
indispensável em direcção a um paraíso perdido. Mas esse olhar
deve ser muito rápido, pois não temos mais tempo para nos determos
com descrições detalhadas.
Nikos
Kazantzákis (1957)
MEMÓRiA
1883-26OUT1957
- Nikos Kazantzákis: Ficcionista, poeta e pensador grego - «Atingir
o homem do seu país, até chegar ao homem sem fronteiras, francês,
grego ou chinês, o homem simplesmente, eis qual deve ser a ambição
suprema do romancista. Acrescentemos algo importante: não podemos
atingir o homem de todos os países, sem colher a sua essência no
homem do nosso país».
IMAG.10-69-152
1912-30OUT1997
- Samuel
Michael Fuller, aliás Samuel
Fuller: Cineasta e produtor americano - «Na guerra, só existe uma
glória: sobreviver… O
filme é um campo de batalha, com amor, ódio, violência, acção,
morte… Numa palavra, emoção!».
IMAG.127-206
VISTORiA
Um
Grande Português –
Origem do Conto do Vigário
Vivia
há já não poucos anos, algures, num concelho do Ribatejo, um
pequeno lavrador, e negociante de gado, chamado Manuel Peres Vigário.
Da
sua qualidade, como diriam os psicólogos práticos, falará o
bastante a circunstância que dá princípio a esta narrativa. Chegou
uma vez ao pé dele certo fabricante ilegal de notas falsas, e
disse-lhe: «Sr. Vigário, tenho aqui umas notazinhas de cem mil réis
que me falta passar. O senhor quer? Largo-lhas por vinte mil réis
cada uma.» «Deixa ver», disse o Vigário; e depois, reparando logo
que eram imperfeitíssimas, rejeitou-as: «Para que quero eu isso?»,
disse; «isso nem a cegos se passa.» O outro, porém, insistiu;
Vigário cedeu um pouco regateando; por fim fez-se negócio de vinte
notas, a dez mil réis cada uma.
Sucedeu
que dali a dias tinha o Vigário que pagar a uns irmãos negociantes
de gado como ele a diferença de uma conta, no valor certo de um
conto de réis. No primeiro dia da feira, em a qual se deveria
efectuar o pagamento, estavam os dois irmãos jantando numa taberna
escura da localidade, quando surgiu pela porta, cambaleando de
bêbado, o Manuel Peres Vigário. Sentou-se à mesa deles, e pediu
vinho. Daí a um tempo, depois de vária conversa, pouco inteligível
da sua parte, lembrou que tinha que pagar-lhes. E, puxando da
carteira, perguntou se importavam de receber tudo em notas de
cinquenta mil réis. Eles disseram que não, e, como a carteira nesse
momento se entreabrisse, o mais vigilante dos dois chamou, com um
olhar rápido, a atenção do irmão para as notas, que se via que
eram de cem. Houve então a troca de outro olhar.
O
Manuel Peres, com lentidão, contou tremulamente vinte notas, que
entregou. Um dos irmãos guardou-as logo, tendo-as visto contar, nem
se perdeu em olhar mais para elas. O vigário continuou a conversa,
e, várias vezes, pediu e bebeu mais vinho. Depois, por natural
efeito da bebedeira progressiva, disse que queria ter um recibo. Não
era uso, mas nenhum dos irmãos fez questão. Ditava ele o recibo,
disse, pois queria as coisas todas certas. E ditou o recibo – um
recibo de bêbedo, redundante e absurdo: de como em tal dia, a tais
horas, na taberna de fulano, e «estando nós a jantar» (e por ali
fora com toda a prolixidade frouxa do bêbedo…), tinham eles
recebido de Manuel Peres Vigário, do lugar de qualquer coisa, em
pagamento de não sei quê, a quantia de um conto de réis em notas
de cinquenta mil réis. O recibo foi datado, foi selado, foi
assinado. O Vigário meteu-o na carteira, demorou-se mais um pouco,
bebeu ainda mais vinho, e daí a um tempo foi-se embora.
Quando,
no próprio dia ou no outro, houve ocasião de se trocar a primeira
nota, o que ia a recebê-la devolveu-a logo, por escarradamente
falsa, e o mesmo fez à segunda e à terceira… E os irmãos,
olhando então verdadeiramente para as notas, viram que nem a cegos
se poderiam passar.
Queixaram-se
à polícia, e foi chamado o Manuel Peres, que, ouvindo atónito o
caso, ergueu as mãos ao céu em graças da bebedeira providencial
que o havia colhido no dia do pagamento. Sem isso, disse, talvez,
embora inocente, estivesse perdido.
Se
não fosse ela, explicou, nem pediria recibo, nem com certeza o
pediria como aquele que tinha, e apresentou, assinado pelos dois
irmãos, e que provava bem que tinha feito o pagamento em notas de
cinquenta mil réis. «E se eu tivesse pago em notas de cem»,
rematou o Vigário, «nem eu estava tão bêbedo que pagasse vinte,
como estes senhores dizem que têm, nem muito menos eles, que são
homens honrados, mas receberiam.» E, como era de justiça foi
mandado em paz.
O
caso, porém, não pôde ficar secreto; pouco a pouco se espalhou. E
a história do «conto de réis do Manuel Vigário» passou,
abreviada, para a imortalidade quotidiana, esquecida já da sua
origem.
Os
imperfeitíssimos imitadores, pessoais como políticos, do mestre
ribatejano nunca chegaram, que eu saiba, a qualquer simulacro digno
do estratagema exemplar. Por isso é com ternura que relembro o feito
deste grande português, e me figuro, em devaneio, que, se há um céu
para os hábeis, como constou que o havia para os bons, ali lhe não
deve ter faltado o acolhimento dos próprios grandes mestres da
Realidade – nem um leve brilho de olhos de Macchiavelli ou
Guicciardini, nem um sorriso momentâneo de George Savile, Marquês
de Halifax.
Fernando
Pessoa
30OUT1926
- Sol
(Lisboa)
BREVIÁRiO
Parceria
A.M. Pereira edita As
Aventuras de Fernando Pessoa
[1888-1935]
- Escritor Universal… de
Miguel Moreira (texto e desenhos) e CatarinaVerdier (cor).
IMAG.26-28-64-82-130-131-157-182-187-196-207-211-236-264-323-326-330-333-343-347-376-382-384-385-395-399-403-404-417-426-433-450-460-467-491-507-509-524-540-551-556-561-576-593-596-604-605-612-613-617-622
Tinta
da China edita Obra
Completa de Alberto Caeiro de
Fernando Pessoa (1888-1935);
organização de Jerónimo Pizarro e Patrício Ferrari.
Sony
Classical edita em CD, Utopia
Triumphans
por Huelgas Ensemble, sob a direcção de Paul van Nevel.
Tinta da China edita Histórias de Nova Iorque de Enric
González; tradução de Raquel Mouta.
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