domingo, julho 10, 2016

IMAGINÁRiO #616

José de Matos-Cruz | 24 Junho 2017 | Edição Kafre | Ano XIV – Semanal – Fundado em 2004

PRONTUÁRiO

FANTASIAS
O que se passa na cabeça de um rapaz e de uma rapariga que, embora apaixonados um pelo outro, não conseguem libertar-se das suas inibições?… Bom, as coisas não são bem assim, como estão a especular - pelo menos, na concepção de Nicolas Vadot & Olivier Guéret, em Norbert, l’Imaginaire. Uma fantasia alegórica, irresistível, lançada em 2001, sob chancela Le Lombard pela vertente Troisième Degré.O patrão de uma grande agência imobiliária, Glonek tenta preparar o filho para lhe suceder. Porém, Simon é um apático, inteiramente dominado por Capitaine, o tirano que lhe controla as ideias. Estabilidade, rigor, autoridade - eis as palavras dessa ditadura consciente, por sua vez ameaçada por Depresseur, um monstro voraz. E há ainda o dissidente Norbert, um prisioneiro imaginário que pinta, canta, escreve - à espera de uma oportunidade para se evadir. Simon faz o que pode, para viver com tais arquétipos, benéficos ou nefastos. Até que, quando tenta vender um apartamento para agradar ao pai, conhece Elodie - uma jovem e bela cliente, mas tímida e austera. Tudo porque, no seu íntimo, está também subordinada ao poder despótico de Bernardette. É a moral feminina que, com as suas rígidas normas de conduta, impede que se manifeste Nora, a mulher-flor que Elodie traz de si. Ora, enquanto Simon se esmera no negócio, apaixona-se por Elodie - com tal entusiasmo que deixa escapar Norbert, levando finalmente a que Nora se revele…
Estilizando como referências pessoais a infância, a solidão e a inocência, a ironia simbólica e romântica de Vadot inspira-se, ao que confessa, no universo mágico do realizador Tim Burton. Quanto a Guéret, é também crítico de cinema!

CALENDÁRiO

12ABR-28MAI2016 - Em Lisboa, Casa Museu Medeiros e Almeida expõe Andar Nas Nuvens - Duas Propostas Para Um Diálogo Entre a Terra e os Céus de Manuel Valente Alves e Carla Cabanas, sendo comissária Margarida Medeiros. IMAG.398

1922-20ABR2016 - Guy Hamilton: Cineasta britânico, realizador da série James Bond entre Contra Goldfinger (1964) e O Homem da Pistola Dourada (1974) - «Eu tinha uma ideia muito clara do que queria fazer… Se gastarmos um milhão de dólares, tem de se ver no ecrã».

1958-21ABR2016 - Prince Rogers Nelson, aliás Prince: Músico americano, compositor, letrista, multi-instrumentista, cantor, produtor, cineasta e actor, autor de Around the World In a Day (1985) - «A vida é apenas uma festa, e as festas não foram feitas para durar». IMAG.92-174

26ABR-26OUT2016 - Castelo de Belmonte apresenta O Novo Mundo e a Palavra - exposição da Carta original que Pêro Vaz de Caminha escreveu a El-Rei D. Manuel I, sobre o «achamento desta vossa terra nova» (Brasil, 1500). IMAG.33-48-302-348

28ABR-26AGO2016 - Bedeteca da Amadora expõe As Jóias da Bedeteca - Uma Mostra da Arte Original No Acervo da Bedeteca da Amadora.

27MAI-12JUN2016 - Em Beja, decorre o XII Festival Internacional de Banda Desenhada, sendo director Paulo Monteiro. IMAG.36-250-305-416-514-568

PARLATÓRiO

Não sou um autor de farsas, mas um autor de tragédias. E a vida não é uma farsa, é uma tragédia. O aspecto trágico da vida está precisamente nessa lei a que o homem é forçado a obedecer, a lei que o obriga a ser um. Cada qual pode ser um, nenhum, cem mil, mas a escolha é um imperativo necessário.
Luigi Pirandello

VISTORiA

Mas eu aborreço-me, meu caro senhor, aborreço-me. A solidão, para mim… pois é, em suma, eu cansei-me. Tenho muitos amigos; mas, acredite, não é nada bom, com certa idade, a pessoa ir para casa e não encontrar ninguém. Sim! Há quem o compreende e há quem não o compreende, meu caro senhor. Quem o compreende está muito pior, porque, no fim, caso se veja sem energias e sem vontade, quem o compreende, com efeito, diz: «Eu não devo tentar isto, eu não devo tentar aquilo, para não fazer esta ou aquela asneira». Muito bem! Mas, a certa altura, percebe que a vida toda é uma asneira; e, aí, diga lá, o que significa não ter feito nenhuma asneira? Significa, no mínimo, não ter vivido, meu caro senhor…
Luigi Pirandello
- O Falecido Mattia Pascal

Um dos aspectos simbólicos das mais altas tradições peninsulares é o cuspir no chão. «Se proibe escupir en el suelo», «É proibido cuspir no chão» - são dísticos que não dei fé de ver afixados em quaisquer outros idiomas senão nos de Camões e de Cervantes. E diz-nos uma correspondente: «Na Suíça não há escarradores». A simples necessidade de fazer, por habitante, uma «capitação» da saliva é, por si, um sintoma de que permanecemos fiéis a uma histórica herança de nossos maiores.
Há tempo fez-se, ingenuamente, a campanha de «engolir em seco». Chegou-se a pôr um polícia na estação do Rossio, de guarda ao cuspo. Passado, porém, certo tempo, o caso esqueceu, como os enredos dos filmes de cinema. E o polícia foi o primeiro a cuspir, num hábito puramente profissional.
Leitão de Barros
- Corvos

MEMÓRiA

28JUN1867-1936 - Luigi Pirandello: Ficcionista, poeta e dramaturgo siciliano, distinguido com o Prémio Nobel da Literatura (1934) - «O campo [da consciência individual] está aberto a todas as suposições. O intelecto adquiriu uma extraordinária mobilidade. Ninguém consegue estabelecer um ponto de vista firme e indestrutível» (1893). IMAG.110-112-165-223-470-484-500-590

1896-29JUN1967 - José Júlio Marques Leitão de Barros, aliás Leitão de Barros: Escritor, artista plástico e cineasta português - «E o milagre aí anda, vivo, humano e ignorado, entre vocês…». IMAG.68-76-78-82-94-95-103-115-130-154-161-164-175-180-221-222-227-232-239-242-245-269-297-307-327-370-395-436-500-583-601-606

GALERiA

O Novo Mundo e a Palavra
A exposição da Carta a El-Rei Dom Manoel Sobre o Achamento do Brasil, de Pêro Vaz de Caminha, está patente na Sala Pedro Álvares Cabral, no Castelo de Belmonte, na Beira Baixa. Esta é a primeira vez, em Portugal, que a Carta é exposta ao público fora da Torre do Tombo, em Lisboa, tendo sido escolhida a vila de Belmonte, no distrito de Castelo Branco, no leste de Portugal, por ser a terra natal de Pedro Álvares Cabral, que capitaneou a esquadra que descobriu a costa brasileira, em Abril de 1500. A Carta de Pêro Vaz de Caminha é um documento classificado como Património Nacional, inscrito pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura / UNESCO, no Registo da Memória do Mundo, que apenas saiu uma vez de Lisboa, para o Brasil, no âmbito das comemorações do 5.º centenário do seu descobrimento. Em comunicado, o Arquivo Nacional da Torre do Tombo / ANTT, a cujo espólio pertence o manuscrito, refere que este documento «assinala um momento singular da História».

Após ter-se avistado terra e os portugueses desembarcado em solo a que chamaram inicialmente Terra de Vera Cruz, Pedro Álvares Cabral mandou o seu escrivão redigir o documento para informar o rei D. Manuel I do achamento de novas terras, tendo seguido para Lisboa numa nau comandada por Gaspar de Lemos. «O que se encontra neste documento burocrático, e que se insere na tradição dos cronistas medievais portugueses, é a descoberta do outro, que aqui transcende os cânones a que relatos de viagens, bestiários e outras efabulações habituaram os europeus, desde a decadência do Império Romano e da emergência das forças muçulmanas no sul da Europa», acrescenta o ANTT. «Não se trata de um relato de viagem, uma narrativa de um conjunto de peripécias com um fim e uma moral adjacentes, nem uma tentativa de exaltar os autores da gesta ou o seu suserano, nem ainda uma tentativa de relevar uma qualquer supremacia tecnológica ou racial». A carta foi escrita em Porto Seguro, sendo datada de 1 de Maio de 1500 - alguns dias após a chegada dos portugueses, e de ter sido celebrada a primeira missa em território sul-americano - por Pêro Vaz de Caminha, de quem se sabe pouco, além da origem fidalga e de ter sido escrivão e vereador na Câmara do Porto, que, com o cosmógrafo Mestre João, descreveu a chegada, a paisagem e as gentes que o habitavam. Graças à colaboração de Mestre João, neste documento surge pela primeira vez sinalizada a constelação estelar Cruzeiro do Sul, que pontifica hoje na bandeira nacional daquele país de Língua Portuguesa.
NL // MAG - Lusa (excerto/adaptação)

BREVIÁRiO

Relógio D’Água edita De Quanta Terra Precisa o Homem de Lev/Leon Tolstoi (1828-1910); tradução de Nina e Filipe Guerra. IMAG.56-194-299-305-358-363-444-506-515-527-593-602

Casa das Letras edita A Estrada dos Silêncios de Carlos Vale Ferraz / Carlos Matos Gomes. IMAG.3-197

Distrijazz edita em CD, Dino Saluzzi: Imágenes - Music For Piano por Horacio Lavandera.

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