José de Matos-Cruz | 01 Abril 2017 | Edição Kafre |
Ano XIV – Semanal – Fundado em 2004
PRONTUÁRiO
Num
panorama de banda desenhada por autores portugueses, David Soares - lisboeta
nascido em 1976, artista gráfico e editor de fanzines - sobressairia como um
autor aliciante, em evolução pelo Círculo de Abuso. Após Cidade-Túmulo e Mr. Burroughs
em álbuns de 2000, o novo milénio foi estigmatizado com Sammahel (2001), pelas sombras do nazismo durante o século findo.
Escritor e ilustrador, Soares apelou à inspiração de Thomas Mann, em Doutor
Fausto , reivindicando um fascínio pela «literatura alemã;
e por toda a literatura da Europa do leste, já que o menciono». Em causa está
uma descida ao inferno que habita no íntimo de Adrian Leverkhün, estudante de
teologia e compositor. Obcecado pelo medo de executar a sua música, com o
pressentimento de que morrerá, Adrian parece nem se aperceber do regime de
horror que germina na Alemanha, e avassalará na crepuscular bestialidade do
Terceiro Reich. Uma obra complexa, madura e perturbante, Sammahel apela à consciência cultural/histórica do leitor,
consumando as virtualidades de um criador que se aprofunda, sob o desígnio da
sua radicalidade.
IMAG.6-358-410
CALENDÁRiO
¢06FEV-08MAI2016 - No Porto, Museu de Arte Contemporânea
de Serralves apresenta The Sonnabend
Collection: Meio Século de Arte Europeia e Americana (Parte 1), sendo
comissário António Homem. IMAG.554
¢20FEV2016 - Na Amadora,
Casa Roque Gameiro apresenta A Casa, Vida e Obra da Família [Alfredo] Roque Gameiro (1864-1935) - exposição
permanente, e a Coletiva da Associação de
Aguarela de Portugal. IMAG.197-558-585-602
¯ABR1937-14FEV2016 - Vera Varela Cid: Bailarina portuguesa,
professora de dança, co-fundadora da Companhia Nacional de Bailado/CNB (1977) -
«Deixa um legado de dedicação, profissionalismo e criatividade artística de
valor inestimável, na história do bailado e das artes performativas em
Portugal» (Ministério da Cultura).
PARLATÓRiO
¯Não
custa muito escrever música, mas é extraordinariamente difícil deixar as notas
supérfluas em cima da secretária… Por vezes, eu pondero em variantes formais, e
o resultado final acaba por me parecer mais específico, mais puro.
Johannes Brahms
¨ Continuo a viajar pela arte. Neste fim-de-semana, não
sei o que se passou com o mundo. Não quero saber. Por uma noite, permitam-me
ser como a avestruz. Só por esta noite, porque amanhã já é segunda feira…
Leonora Carrington
VISTORiA
¨Sempre que leio nos jornais:
«De
casa de seus pais desapar’ceu…»
Embora
sejam outros os sinais,
Suponho
sempre que sou eu.
Eu,
verdadeiramente jovem,
Que
por caminhos meus e naturais,
Do
meu veleiro, que ora os outros movem,
Pudesse
ser o próprio arrais.
Eu,
que tentasse errado norte;
Vencido,
embora, por contrário vento,
Mas
desprezasse, consciente e forte,
O
porto do arrependimento.
Eu,
que pudesse, enfim, ser eu!
–
Livre o instinto, em vez de coagido.
«De
casa de seus pais desapar’ceu…»
Eu,
o feliz desaparecido!
Carlos
Queiroz
-
Desaparecido e Outros Poemas (1950)
MEMÓRiA
¯1833-03ABR1897
- Johannes Brahms: Compositor alemão - «Herdeiro de Beethoven, oferece em sua
obra a síntese perfeita do romantismo e do classicismo. Não desprezou o canto
popular húngaro, que incorporou a uma poesia tipicamente nórdica e suntuosa»
(Renata Cortez Sica). IMAG.82-171-193-199-256-286-303-324-393-417-482-531-554-597
¨ 05ABR1907-1949 - José Carlos de Queiroz Nunes Ribeiro,
aliás Carlos Queiroz: Poeta e ensaísta português - «Por que vieste? – Não
chamei por ti! / Era tão natural o que eu pensava, / (Nem triste, nem alegre,
de maneira / Que pudesse sentir a tua falta…) / E tu vieste, / Como se fosses
necessária!» (Apelo à Poesia). IMAG.167-307-491
¨ 1926-05ABR1997 - Irwin Allen Ginsberg, aliás Allen
Ginsberg: Poeta americano, ligado à beat
generation - «Os corpos quentes / brilham juntos / na escuridão, / a mão
move-se / para o centro / da carne, / a pele treme / na felicidade / e a alma
sobe / feliz até ao olhar – // sim, sim, / é isso que / eu queria, / eu
sempre quis, / eu sempre quis / voltar / ao corpo / em que nasci.» (Canção). IMAG.9-13-64-85-89-247-306-362-426-469-565
¨ 06ABR1917-2011 - Leonora Carrington: Escritora, pintora
e escultora de origem inglesa, ligada ao surrealismo e ao México - «Não é uma
poetisa, mas um poema que caminha, que sorri, que de repente exibe o seu sorriso
e se converte em pássaro, depois em peixe, e desaparece» (Octavio Paz). IMAG.361
1863-07ABR1947 - Henry
Ford: Industrial americano - «Se o
dinheiro for a nossa esperança de independência, jamais a alcançaremos. A única
segurança verdadeira consiste numa reserva de sabedoria, de experiência e de
competência… Há um punhado de homens que conseguem enriquecer, simplesmente,
porque prestam atenção aos pormenores que a maior parte das pessoas despreza». IMAG.125-428
TRAJECTÓRiA
Joannes Brahms
¯ Compositor
e pianista alemão, Brahms nasceu em 1833, em Hamburgo, na Alemanha, e morreu em
1897, em Viena, na Áustria. Compôs sinfonias, concertos, música de câmara,
peças para piano, peças corais e mais de 200 canções. Foi o grande mestre da
sinfonia e da sonata da segunda metade do século XIX e um dos grandes
compositores da época romântica.
Johannes Brahms era talentoso, produtivo e, além do êxito alcançado, tornou-se
imensamente popular. Apesar disso, era visto como um conservador, em contraste
com o progressismo de outros compositores seus contemporâneos. As suas
sinfonias e concertos são bastante formais e não fossem os pequenos toques de
classe, nomeadamente em alguns andamentos, não seriam hoje tão considerados. A sua
excelência revela-se nesses pequenos detalhes. Talvez por isso, os seus
trabalhos de menor dimensão - as peças de câmara e as sonatas - demonstrem
tanta imaginação e energia. O simples facto de a sua Primeira Sinfonia
ser ironicamente apelidada de Décima de
Beethoven, prova o seu apego ao formalismo clássico de um compositor
falecido há 50 anos. Adicionalmente, o facto de Johannes Brahms se ter
demarcado de Liszt, Wagner e Bruchner e outros compositores da chamada Nova
Escola Alemã atesta a sua inadaptação à rápida mudança estética da segunda
metade do século XIX.
Os
estudos musicais de Brahms foram iniciados muito cedo, no piano e na
composição. O seu desejo era ser reconhecido como maestro e compositor.
Tornou-se amigo de Robert Schumann, até porque partilhavam o mesmo estilo
musical. A partir daí, Brahms tentou a sua sorte em Viena, a capital musical da
Europa, e conheceu algum sucesso. Adicionalmente, atuou um pouco por toda a
Europa, dando a conhecer a sua obra, perante audiências cada vez maiores.
Depois disso, como muitos outros músicos, tornou-se professor. Quando em 1869
compôs Um Requiem Alemão, um trabalho coral e orquestral grandioso,
conseguiu críticas bastante positivas e o retorno financeiro de que
necessitava. Com a confiança renovada, trabalhou no formato que sempre o tinha
amedrontado: a sinfonia. Veio a compor quatro sinfonias, além de numerosos
concertos.
Entre
as suas composições mais conhecidas encontram-se o Concerto para Piano N.º 1
em Ré Menor
(1854-58), o Um Requiem Alemão (1868), as Danças Húngaras (1869),
as Variações sobre um Tema de Haydn (1873), a Sinfonia N.º 1 em Dó Menor (1876), a Sinfonia
N.º 2 em Ré Maior
(1877), o Concerto para Violino em Ré Maior (1878), a Sinfonia N.º 3 em Fá Maior (1883), a Sinfonia
N.º 4 em Mi Menor
(1884-85), a Sonata para Violino em Ré Menor (1886-88), o Quinteto para Cordas
em Fá Maior
(1882), o Quinteto para Cordas em Sol Maior (1890), o Quinteto para
Clarinete e Cordas (1891) e as Sonatas para Clarinete e Piano
(1894).
Uma
boa parte da sua obra foi inspirada diretamente na música popular alemã,
húngara e zíngara. Toda a sua música apresenta solidez, riqueza harmónica,
expressividade melódica e uma força rítmica baseada na utilização de síncopas.
Embora não tenha sido um inovador, a sua arte marca uma forte maturidade dentro
do movimento romântico alemão, o que faz de Brahms uma das figuras máximas da
História da música.
SUMÁRiO
¨ Nasceu em 1907, em Paris. Poeta ,
ensaísta, crítico literário e de arte, estudou Direito na Universidade de
Coimbra, tornando-se funcionário da Emissora Nacional, onde organizou programas
culturais. Assíduo colaborador da Presença
e de outras publicações literárias, foi considerado um elo de ligação entre a
geração presencista e a de Orpheu.
Considerado um discípulo directo de Fernando Pessoa, a sua poesia
caracteriza-se pela perfeição formal, pelo equilíbrio e sobriedade e pela
sugestão musical. Denuncia alguma herança romântica e certa aproximação ao simbolismo.
Morreu em 1949, em Paris.
BREVIÁRiO
¨ Relógio D’Água edita Convite Para Uma Decapitação de Vladimir Nabokov (1899-1977); tradução de Carlos Leite. IMAG.63-223-253-272-325-338-418-503-504-505-507-600
¨ Cavalo de Ferro edita Thérèse Desqueyroux de François Mauriac (1885-1970); tradução de Manuela Barros. IMAG.112-484-534
¨ Fundação Francisco Manuel dos Santos edita Malditos - Histórias de Homens e de Lobos de
Ricardo J. Rodrigues.
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