sexta-feira, fevereiro 19, 2016

IMAGINÁRiO #597

José de Matos-Cruz | 01 Fevereiro 2017 | Edição Kafre | Ano XIV – Semanal – Fundado em 2004

PRONTUÁRiO
 
SURREALISMO
O intenso e aliciante labor de Maria Estela Guedes, como escritora e investigadora, logra uma expressiva notoriedade através dos Cadernos Surrealistas Sempre - colecção de que é directora, sob chancela editorial de Apenas Livros. Em perspectiva, «juntar trabalhos sobre o Surrealismo e criação pura de surrealistas que retratem essa tão pujante, poética, divertida, desconcertante e maldizente arte que foi a mais importante contribuição da modernidade para a cultura europeia do século XX e no nosso país constituiu terreno fértil para o desenvolvimento de artistas que não só deram poderes à imaginação como tornaram a liberdade poética uma prática de contestação política». Ao número 3, Maria Estela Guedes assume também a autoria de Surrealismo ‘Incertae Sedis’ - em que reúne «comunicações, conferências, textos publicados n' A Ideia, na Incomunidade e no TriploV, de análise semântica, sobre Manuel de Castro, Herberto Helder, Luiz Pacheco, José Emílio-Nelson, Luís Filipe Coelho, Nicolau Saião e João César Monteiro - e eu pergunto, esperando que alguém responda: então não há mulheres no Surrealismo? Teremos de as desencantar, não me conformo com a sua ausência». Eis um desafio pleno de expectativas… IMAG.345


MEMÓRiA
 
¯01FEV1907-1993 - Mozart Camargo Guarnieri: Compositor e maestro brasileiro - «Personalidade original, que vivencia a problemática envolvida pela estética nacionalista através da sua própria experiência e sensibilidade» (P.Q.P. Bach/Sul21). IMAG.494
 
¨ 01FEV1937-1995 - Fernando Santiago Mendes de Assis Pacheco, aliás Fernando Assis Pacheco: Jornalista, poeta e ficcionista português, autor de Trabalhos e Paixões de Benito Prada (1993) - «como discursa uma alma enlevada / se a retórica foi bem explicada / por culto e sólido professor». IMAG. 117-190-317-416-539-549
 
¨ 02FEV1847-1921 - Maria Amália Vaz de Carvalho: Escritora e pedagoga portuguesa - «A mulher é um poder, é preciso aproveitá-la na obra comum da civilização». IMAG.91-352-334
                        
CALENDÁRiO

¢15NOV2015-28FEV2016 - Em Lisboa, Torreão Nascente da Cordoaria Nacional apresenta Canal Caveira - exposição colectiva de escultura de António Bolota, Bruno Cidra, Gonçalo Barreiros e Gonçalo Sena.

¢10DEZ2015-11JAN2016 - Em Lisboa, Museu Nacional de História Natural e da Ciência / MUHNAC apresenta, na Sala do Veado, Quarto Escuro - exposição de pintura de Adriana Molder. IMAG.416

¢10DEZ2015-17JAN2016 - Em Oeiras, Centro Cultural Palácio do Egipto apresenta Fading - exposição de pintura de Paiva Raposo.
 
¢17DEZ2015-24ABR2016 - Em Cascais, Casa das Histórias Paula Rego expõe Caçadora Furtiva de Paula Rego, sendo curadora Catarina Alfaro. IMAG.11-13-31-199-205-258-269-325-342-351-357-364-370-399-416-464-486-489-515-545-596

µ18DEZ2015-18ABR2016 - No Centro Cultural de Cascais, Fundação D. Luís I apresenta Obras-Primas - exposição de fotografia de Nicolás Muller (1913-2000).
     
VISTORiA
 
Giga das Fogueiras

¨Embora me escutasses nada saberás de mim
e fosses à janela
e embora olhasses não me vês que passo
e digas um adeus pequeno
e embora às vezes já sentisses náusea
e afinal te inclinas
e embora seca embora secamente
e finjo que não ligo
e embora as baças ténues luzes das
e eu por timidez sempre apagado
e embora as marés-vivas batendo
e amámos nisso o Verão
e embora lerda a caneta se apure
e tu não entendesses nada
não entendesses nada
Fernando Assis Pacheco
- A Bela do Bairro e Outros Poemas (1986)

VISTORiA


¨ À indiferença oponhamos o amor, à dúvida oponhamos a fé.
O céu tem ainda o azul radiante dos dias da mocidade; a natureza é ainda a bela insensível, que assiste radiosa e iluminada às nossas lágrimas eternas, que o vento enxuga num momento!
Contemplemos de mais alto a evolução dos ideais e a transformação das coisas.
Se na terra somos efémeros de uma hora, nunca se quebra a cadeia que se vai forjando, dos ideais belos que concebemos ao passar.
Soframos, tal é o nosso destino e quase o nosso dever, mas amemos, que é o meio de tornarmos fecunda para os outros a dor que acima de nós mesmos nos levanta, a dor que é inspiração de todo o bom, de todo o belo, que em nós há.
O pessimismo leva à abdicação da vontade, à própria negação do sofrimento, pela completa insensibilidade a que aspira, e que de vez em quando já começa a atingir.
Não vale a pena! Eis a divisa da nossa desolada geração!
Pois é necessário que, em contradição e em protesto a este lema egoístico, se levante das nossas entranhas de mães, dos nossos corações de mulheres, um grito de amor intenso, um grito de amor fecundante e poderoso.
Porque um dos defeitos da nossa quadra é este: depois de termos dado ao amor um lugar enorme, predominante, decisivo e tirânico, tendemos a cercear-lhe todos os direitos, a destruir-lhe todas as influências boas.
O nosso século, que por meio de radiante romantismo fez do amor o Deus pagão que foi na Renascença, hoje, pela escola científica do temperamento e do meio, vai fazer do amor um poder inconsciente, que, segundo as circunstâncias em que é chamado a actuar, é um órgão de reprodução animal, ou um elemento de corrupção dissolvente.
Reabilitemos o amor.
Façamos dele alguma coisa de mais ou de menos do que o estão fazendo os mestres da literatura contemporânea, fotógrafos, neste ponto, dos costumes decadentes da época.
Ele não é a suprema e última embriaguez embrutecedora em que a humanidade tende a adormecer, como essa literatura de sensualismo agonizante, parece querer demonstrar-nos; pelo contrário, ele, é a fonte da eterna juventude em que, os velhos, da velhice precoce deste século, da velhice que se traduz pelo excesso do pensamento e da sensação, podem ainda retemperar as forças exaustas; é dele que podem ainda partir as grandes iniciativas transformadoras, as poderosas e viris energias, os sonhos iluminados da virtude e do bem.
Maria Amália Vaz de Carvalho
 - Cartas a Luísa
(excerto)
     
TRAJECTÓRiA
 
Camargo Guarnieri

¯Mozart Camargo Guarnieri nasceu no dia 1 de fevereiro de 1907, na cidade de Tietê, no estado de São Paulo. Filho de músico, iniciou seus estudos de teoria musical aos 10 anos de idade com o professor Virgínio Dias, a quem dedicou Sonho de Artista, sua primeira composição.
Em 1923 a família mudou-se para São Paulo. A partir de 1924 Guarnieri passou a estudar piano com Sá Pereira e Ernani Braga. De 1926 a 1930 estudou composição e direção de orquestra com o italiano Lamberto Baldi.
Camargo Guarnieri começou a escrever música regularmente após a Semana de Arte Moderna, iniciando-se como compositor essencialmente brasileiro em 1928, aos 21 anos, quando compôs a Dança Brasileira e a Canção Sertaneja. Chegou a submeter essas duas obras a Mário de Andrade, então o mais importante intelectual da época, que tornou-se mestre de Guarnieri. Essa relação mestre-discípulo se alongou por muitos anos.
O maestro foi contratado em 1937 pelo Departamento de Cultura da Cidade de São Paulo, dirigido, na época, por Mário de Andrade. Em 1938 recebeu uma viagem para a Europa do Conselho de Orientação Artística do Estado de São Paulo. Em Paris estudou contraponto, fuga, composição e estética musical com Charles Koechlin, regência de orquestra e de coros com François Rühlmann, maestro da Orquestra da Ópera de Paris na época, além de realizar uma audição de suas obras na série Revue Musicale, retornando ao Brasil em 1939, em decorrência da II Guerra Mundial.
Em 1942 fez sua primeira viagem aos Estados Unidos, onde realizou um concerto com a Orquestra League of Composers of New York e dirigiu a Orquestra Sinfônica de Boston a convite de Sergey Koussevitzky.
De 1955 a 1960 foi assessor técnico de assuntos musicais do Ministério da Educação e Cultura.
Durante toda sua vida Guarnieri acumulou prêmios e ocupou altos cargos no cenário da música nacional e internacional.
Diferenciando-se de seus antecessores e mesmo de contemporâneos, Camargo Guarnieri não veio da música européia para a brasileira, pelo contrário, iniciou-se já envolvido em música brasileira. Compôs vasta obra em todos os gêneros, atingindo um número de mais de setecentas peças.
Grande apreciador da música de Brahms, devoto de Bach, além de admirar Mozart de tal maneira que deixou de assinar seu primeiro nome em respeito ao mestre. Ficava furioso quando alguém o chamava de Mozart ou cometia o crime de colocar seu nome completo em um programa de concerto ou capa de disco.
Foi criador e diretor do Coral Paulistano, idealizou o 1º Festival de Campos do Jordão, foi diretor da Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo, regente titular e diretor artístico da Orquestra Sinfônica da USP desde a sua criação, em 1975, e membro fundador da Academia Brasileira de Música, da qual foi presidente.
Regeu as mais importantes orquestras estrangeiras. Foi membro do júri dos mais importantes concursos internacionais, além de ter sido agraciado com inúmeros prêmios, condecorações e medalhas, somando mais de cem títulos nacionais e estrangeiros, e ainda premiado em mais de 10 concursos nacionais e internacionais de composição.
Camargo Guarnieri faleceu em 13 de janeiro de 1993, aos 85 anos, em São Paulo, logo após ter sido agraciado com o Prêmio Gabriela Mistral, pela OEA (Washington), com o título de Maior Compositor Contemporâneo das Três Américas.
http://www.usp.br/osusp/maestro_camargo.html
          
BREVIÁRiO
 
¨ Xerefé edita Poemas do Conta-Gotas de João Pedro Mésseder; ilustrações de Ana Biscaia. IMAG.310-416-430-509-531-555

¯Warner edita em CD, sob chancela Swan Song, Physical Graffiti / 40th Anniversary De Luxe Edition por Led Zeppelin. IMAG.192


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