José de Matos-Cruz | 01 Fevereiro 2017 | Edição Kafre
| Ano XIV – Semanal – Fundado em 2004
PRONTUÁRiO
SURREALISMO
O
intenso e aliciante labor de Maria
Estela Guedes, como escritora e investigadora, logra uma expressiva
notoriedade através dos Cadernos
Surrealistas Sempre - colecção de que é directora, sob chancela editorial
de Apenas Livros. Em perspectiva, «juntar trabalhos sobre o Surrealismo e
criação pura de surrealistas que retratem essa tão pujante, poética, divertida,
desconcertante e maldizente arte que foi a mais importante contribuição da
modernidade para a cultura europeia do século XX e no nosso país constituiu
terreno fértil para o desenvolvimento de artistas que não só deram poderes à
imaginação como tornaram a liberdade poética uma prática de contestação
política». Ao número 3, Maria Estela Guedes assume também a autoria de Surrealismo ‘Incertae Sedis’ - em que
reúne «comunicações, conferências, textos publicados n' A Ideia, na Incomunidade e no TriploV, de análise semântica, sobre
Manuel de Castro, Herberto Helder, Luiz Pacheco, José Emílio-Nelson, Luís
Filipe Coelho, Nicolau Saião e João César Monteiro - e eu pergunto, esperando
que alguém responda: então não há mulheres no Surrealismo? Teremos de as
desencantar, não me conformo com a sua ausência». Eis um desafio pleno de
expectativas… IMAG.345
MEMÓRiA
¯01FEV1907-1993 - Mozart Camargo Guarnieri: Compositor e
maestro brasileiro - «Personalidade original, que vivencia a problemática
envolvida pela estética nacionalista através da sua própria experiência e
sensibilidade» (P.Q.P. Bach/Sul21). IMAG.494
¨ 01FEV1937-1995
- Fernando Santiago Mendes de Assis Pacheco, aliás Fernando Assis Pacheco: Jornalista,
poeta e ficcionista português, autor de Trabalhos
e Paixões de Benito Prada (1993) - «como discursa uma alma enlevada / se a
retórica foi bem explicada / por culto e sólido professor». IMAG. 117-190-317-416-539-549
¨ 02FEV1847-1921 - Maria Amália Vaz de Carvalho:
Escritora e pedagoga portuguesa - «A mulher é um poder, é preciso aproveitá-la
na obra comum da civilização». IMAG.91-352-334
CALENDÁRiO
¢15NOV2015-28FEV2016 - Em Lisboa, Torreão Nascente da
Cordoaria Nacional apresenta Canal
Caveira - exposição colectiva de escultura de António Bolota, Bruno Cidra,
Gonçalo Barreiros e Gonçalo Sena.
¢10DEZ2015-11JAN2016 - Em Lisboa, Museu Nacional de
História Natural e da Ciência / MUHNAC apresenta, na Sala do Veado, Quarto Escuro - exposição de pintura de
Adriana Molder.
IMAG.416
¢10DEZ2015-17JAN2016 - Em Oeiras, Centro Cultural
Palácio do Egipto apresenta Fading -
exposição de pintura de Paiva Raposo.
¢17DEZ2015-24ABR2016 - Em Cascais, Casa das Histórias
Paula Rego expõe Caçadora Furtiva de
Paula Rego, sendo curadora Catarina Alfaro. IMAG.11-13-31-199-205-258-269-325-342-351-357-364-370-399-416-464-486-489-515-545-596
µ18DEZ2015-18ABR2016 - No Centro Cultural de Cascais,
Fundação D. Luís I apresenta Obras-Primas
- exposição de fotografia de Nicolás Muller (1913-2000).
Giga das
Fogueiras
¨Embora me escutasses nada saberás de mim
e fosses à janela
e fosses à janela
e embora olhasses não me
vês que passo
e digas um adeus pequeno
e digas um adeus pequeno
e embora às vezes já
sentisses náusea
e afinal te inclinas
e afinal te inclinas
e embora seca embora
secamente
e finjo que não ligo
e finjo que não ligo
e embora as baças ténues
luzes das
e eu por timidez sempre apagado
e eu por timidez sempre apagado
e embora as marés-vivas
batendo
e amámos nisso o Verão
e amámos nisso o Verão
e embora lerda a caneta se
apure
e tu não entendesses nada
e tu não entendesses nada
não entendesses nada
Fernando
Assis Pacheco
- A Bela do Bairro e Outros Poemas (1986)
VISTORiA
O
céu tem ainda o azul radiante dos dias da mocidade; a natureza é ainda a bela
insensível, que assiste radiosa e iluminada às nossas lágrimas eternas, que o
vento enxuga num momento!
Contemplemos
de mais alto a evolução dos ideais e a transformação das coisas.
Se
na terra somos efémeros de uma hora, nunca se quebra a cadeia que se vai
forjando, dos ideais belos que concebemos ao passar.
Soframos,
tal é o nosso destino e quase o nosso dever, mas amemos, que é o meio de
tornarmos fecunda para os outros a dor que acima de nós mesmos nos levanta, a
dor que é inspiração de todo o bom, de todo o belo, que em nós há.
O
pessimismo leva à abdicação da vontade, à própria negação do sofrimento, pela
completa insensibilidade a que aspira, e que de vez em quando já começa a
atingir.
Não
vale a pena! Eis a divisa da nossa desolada geração!
Pois
é necessário que, em contradição e em protesto a este lema egoístico, se
levante das nossas entranhas de mães, dos nossos corações de mulheres, um grito
de amor intenso, um grito de amor fecundante e poderoso.
Porque
um dos defeitos da nossa quadra é este: depois de termos dado ao amor um lugar
enorme, predominante, decisivo e tirânico, tendemos a cercear-lhe todos os
direitos, a destruir-lhe todas as influências boas.
O
nosso século, que por meio de radiante romantismo fez do amor o Deus pagão que
foi na Renascença, hoje, pela escola científica do temperamento e do meio, vai
fazer do amor um poder inconsciente, que, segundo as circunstâncias em que é
chamado a actuar, é um órgão de reprodução animal, ou um elemento de corrupção
dissolvente.
Reabilitemos
o amor.
Façamos
dele alguma coisa de mais ou de menos do que o estão fazendo os mestres da
literatura contemporânea, fotógrafos, neste ponto, dos costumes decadentes da
época.
Ele
não é a suprema e última embriaguez embrutecedora em que a humanidade tende a
adormecer, como essa literatura de sensualismo agonizante, parece querer
demonstrar-nos; pelo contrário, ele, é a fonte da eterna juventude em que, os
velhos, da velhice precoce deste século, da velhice que se traduz pelo excesso
do pensamento e da sensação, podem ainda retemperar as forças exaustas; é dele
que podem ainda partir as grandes iniciativas transformadoras, as poderosas e
viris energias, os sonhos iluminados da virtude e do bem.
Maria
Amália Vaz de Carvalho
- Cartas
a Luísa
(excerto)
TRAJECTÓRiA
Camargo Guarnieri
¯Mozart Camargo Guarnieri nasceu no dia 1 de fevereiro
de 1907, na cidade de Tietê, no estado de São Paulo. Filho de músico, iniciou
seus estudos de teoria musical aos 10 anos de idade com o professor Virgínio
Dias, a quem dedicou Sonho de Artista,
sua primeira composição.
Em
1923 a família mudou-se para São Paulo. A partir de 1924 Guarnieri passou a
estudar piano com Sá Pereira e Ernani Braga. De 1926 a 1930 estudou composição
e direção de orquestra com o italiano Lamberto Baldi.
Camargo
Guarnieri começou a escrever música regularmente após a Semana de Arte Moderna,
iniciando-se como compositor essencialmente brasileiro em 1928, aos 21 anos,
quando compôs a Dança Brasileira e a Canção Sertaneja. Chegou a submeter essas
duas obras a Mário de Andrade, então o mais importante intelectual da época,
que tornou-se mestre de Guarnieri. Essa relação mestre-discípulo se alongou por
muitos anos.
O
maestro foi contratado em 1937 pelo Departamento de Cultura da Cidade de São
Paulo, dirigido, na época, por Mário de Andrade. Em 1938 recebeu uma viagem
para a Europa do Conselho de Orientação Artística do Estado de São Paulo. Em
Paris estudou contraponto, fuga, composição e estética musical com Charles
Koechlin, regência de orquestra e de coros com François Rühlmann, maestro da
Orquestra da Ópera de Paris na época, além de realizar uma audição de suas
obras na série Revue Musicale,
retornando ao Brasil em 1939, em decorrência da II Guerra Mundial.
Em
1942 fez sua primeira viagem aos Estados Unidos, onde realizou um concerto com
a Orquestra League of Composers of New York e dirigiu a Orquestra Sinfônica de
Boston a convite de Sergey Koussevitzky.
De
1955 a 1960 foi assessor técnico de assuntos musicais do Ministério da Educação
e Cultura.
Durante
toda sua vida Guarnieri acumulou prêmios e ocupou altos cargos no cenário da
música nacional e internacional.
Diferenciando-se
de seus antecessores e mesmo de contemporâneos, Camargo Guarnieri não veio da música européia para a
brasileira, pelo contrário, iniciou-se já envolvido em música brasileira.
Compôs vasta obra em todos os gêneros, atingindo um número de mais de
setecentas peças.
Grande
apreciador da música de Brahms, devoto de Bach, além de admirar Mozart de tal
maneira que deixou de assinar seu primeiro nome em respeito ao mestre. Ficava
furioso quando alguém o chamava de Mozart ou cometia o crime de colocar seu nome completo em um programa de concerto ou
capa de disco.
Foi
criador e diretor do Coral Paulistano, idealizou o 1º Festival de Campos do
Jordão, foi diretor da Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo, regente
titular e diretor artístico da Orquestra Sinfônica da USP desde a sua criação,
em 1975, e membro fundador da Academia Brasileira de Música, da qual foi
presidente.
Regeu
as mais importantes orquestras estrangeiras. Foi membro do júri dos mais
importantes concursos internacionais, além de ter sido agraciado com inúmeros
prêmios, condecorações e medalhas, somando mais de cem títulos nacionais e
estrangeiros, e ainda premiado em mais de 10 concursos nacionais e
internacionais de composição.
Camargo
Guarnieri faleceu em 13 de janeiro de 1993, aos 85 anos, em São Paulo , logo após ter
sido agraciado com o Prêmio Gabriela Mistral, pela OEA (Washington), com o
título de Maior Compositor Contemporâneo das Três Américas.
http://www.usp.br/osusp/maestro_camargo.html
BREVIÁRiO
¨ Xerefé edita Poemas
do Conta-Gotas de João Pedro Mésseder; ilustrações de Ana Biscaia. IMAG.310-416-430-509-531-555
¯Warner edita em
CD, sob chancela Swan Song, Physical
Graffiti / 40th Anniversary De Luxe Edition por Led Zeppelin. IMAG.192
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