José de Matos-Cruz | 16 Janeiro 2017 | Edição Kafre | Ano XIV –
Semanal – Fundado em 2004
PRONTUÁRiO
HUMORES
É conhecida a fábula
sobre um congresso de humoristas, em que o britânico apenas reagiu trinta
minutos depois de um latino ter contado uma anedota. Não tanto por ser lento em
detectar a graça, justificou-se, mas
porque nessa retenção do riso é que residia a sua própria piada… O cineasta Terry Jones evocou-a em 1983,
embaraçado pelos jornalistas de Hollywood, onde fora tratar da co-produção O
Sentido da Vida / The Meaning of Life, com os Monty Python. O problema era: cada país
tem específicos alvos e modelos de humor; no inglês, há um refinado cinismo,
que pode tornar-se cáustico e violento. Pairava, pois, a questão de saber como
iria Terry Jones - realizador (e co-argumentista) com Terry Gilliam - conciliar essa sofisticação britânica,
com a espontaneidade dos ianques. Tendo recordado o tal congresso, Terry Jones
concluía: «Depois de ver uns quantos filmes americanos, estou certo de que os
farei soltar umas gargalhadas!». IMAG.62-419-431-504
CALENDÁRiO
µ16OUT-13DEZ2015 - Em
Lisboa, Fundação EDP apresenta, no Museu da Electricidade, One’s Own Arena - exposição de fotografia de José Pedro Cortes, sendo comissário
Nuno Crespo. IMAG.297-516
23OUT2015-22JAN2016 - Em Lisboa, Museu Nacional
de História Natural e da Ciência apresenta O
Palácio da Memória - exposição de João Ó, sobre a Era dos Descobrimentos;
produção de Impromptu Projects com Galeria Zé dos Bois, sendo curador
Natxo Checa.
¢13NOV2015-10ABR2016
- Em Castelo Branco, Centro de Cultura Contemporânea expõe Pintura Modernista Na Colecção Millennium BCP, sendo curadora
Raquel Henriques da Silva.
¸19NOV2015 - Midas Filmes estreia Montanha de João Salaviza; com David
Mourato e Maria João Pinho. IMAG.269-409
20NOV2015 -
Na Biblioteca de S. Domingos de Rana, Câmara Municipal de Cascais inaugura a
Bedeteca José de Matos-Cruz.
¢21NOV2015-03ABR2016 - Em Lisboa,
Museu Nacional de Arte Antiga/MNAA expõe
Colección Masaveu - Grandes Mestres da Pintura Espanhola.
O23NOV-19DEZ2015
- Em Lisboa, Palácio da Independência expõe Resistência
e Liberdade - Independências Na Arte das Lusofonias; organização da Casa da
Liberdade - Mário Cesariny com o Colectivo Multimédia Perve, a convite da
Sociedade Histórica da Independência de Portugal.
¸26NOV2015 - NOS Audiovisuais
estreia O Leão da Estrela de Leonel
Vieira; com Miguel Guilherme e Dânia Neto. IMAG.19-30-168-180-223-579
¢27NOV2015-28FEV2016 - No Centro
Cultural de Cascais, Fundação Luís I apresenta Fragmentos - exposição de pintura e desenho de Raúl Perez.
PARLATÓRiO
¨ Os americanos são um povo
tolerante… Conseguem aceitar que alguém seja alcoólatra, drogado, espancador de
mulheres, e até mesmo jornalista… Mas, se um homem for incapaz de mandar,
então, é porque há algo de errado com ele.
Art Buchwald
(1968)
Lisboa sob névoa
¨Na névoa, a cidade, ébria
oscila, tomba.
Informes, as casas
perdem o lugar e o dia.
Cravadas no nada,
as paredes são menires,
pedras antigas vagas
sem princípio, sem fim.
Fiama Hasse Pais Brandão
COMENTÁRiO
Raymond Roussel – Grito ou Canto?
¨Com Raymond Roussel, um primeiro
paradoxo poderia ser formulado: Como explicar que um escritor, no avesso do que
se chamaria de um bom escritor, tenha sua obra reconhecida como primordial,
nessa entrada do século XX francês, e seja capaz de exercer tamanho fascínio
sobre gerações inteiras de escritores e artistas? De Marcel Duchamp (que
assistira à adaptação teatral de Impressions d'Afrique, recebendo ali
uma parte do impulso para o seu Grande Vidro), ao Oulipo (com suas
oficinas de escrita sob restrição), passando por grandes autores cuja
obra foi marcada por ele, como Michel Leiris, Georges Perec e Leonardo
Sciascia, a leitura e a vida de Roussel impressionam. Sem ele, talvez não se
pudessem ler tão bem Proust, Joyce ou Mallarmé com suas «subdivisões
prismáticas da ideia», nem compreender o vazio que a literatura instala na
linguagem. Roussel tem, no entanto, uma prosa que passa da monotonia mais
descritiva e monocórdica para engenhosos emaranhados narrativos, tudo
detalhadamente servido em uma cacofonia no limite do legível. De uma frase
inicial, decomposta em expressões homófonas, é que nascem os enredos. A
armadura da obra é seu ponto de partida, a trama é construída mecanicamente,
escolhe-se ao acaso: um calembur, um acalanto, um verso de Victor Hugo…
Ana Maria Amorim de Alencar
MEMÓRiA
¸ 17JAN1867-1939 - Karl Lämmle,
aliás Carl Laemmle, aliás Carl Lemmle: Produtor do cinema americano, nascido na
Alemanha, fundador dos estúdios Universal (The Universal Film Manufacturing
Company - 1912). IMAG.23
¨ 1925-17JAN2007 - Arthur Buchwald, aliás Art Buchwald: Colunista e
humorista americano - «Sendo a pessoa que sou, quero que se lembrem de mim pelo
humor, pelo facto de os ter feito rir. Também quero que me recordem como um
sujeito simpático - faz parte da fantasia». IMAG.129-535
¨ 1938-19JAN2007 - Fiama Hasse Pais Brandão: Escritora portuguesa,
poetisa e ficcionista, dramaturga, ensaísta e tradutora - «A pedra crê: esta /
criança é de pedra. / Não crê que veio do ventre / e que um cordão de sangue /
a liga à Natureza.». IMAG.72-98-131-191-254-361
¨ 20JAN1877-1933 - Raymond Roussel:
Escritor francês, precursor do surrealismo, autor de Impressões da África (1910) e Locus
Solus (1914) - «Influenciou uma plêiade de artistas ao longo de um século»
(João Fernandes). IMAG.426
GALERiA
One’s Own Arena
µJosé Pedro Cortes usa a
fotografia para mostrar o lado quotidiano da vida, o casual, o banal. Interessa-lhe
o estudo do corpo anónimo, tanto da mulher como do homem, que retrata nesta
série pela primeira vez, e os limites e a tensão da relação masculino /
feminino. Aprofundou também o estudo dos espaços interiores onde insere os
modelos, os objectos e os seus materiais.
José Pedro Cortes regressou este ano à cidade de Toyama no Japão.
Anteriormente, em 2012, tinha sido convidado a passar seis semanas a fotografar
nesta cidade, no âmbito do projecto European Eyes on Japan.
Entre abril e maio deste ano, decidiu voltar e procurar o mesmo
tipo de cenários e personagens: homens e mulheres vulgares, sem nenhuma
história particular ou marca social que os distinguisse de todos os outros que
encontrava na rua.
O resultado é uma seleção de 39 fotografias que retratam de forma
intensa personagens anónimas, ruas, objectos que surgem do olhar contemporâneo
do artista.
«São umas ruas, seis ou sete pessoas, um restaurante, o mesmo
quarto de hotel e pouco mais. Tudo isto num país muito diferente, com
dificuldade de comunicação. Mas é a rotina de voltar às pessoas e aos sítios e
a forma frágil e intensa com que as imagens foram feitas que me faz pensar em
Toyama como um território» (José Pedro Cortes).
BREVIÁRiO
Pato Lógico edita Eu Quero a
Minha Cabeça! de António Jorge Gonçalves. IMAG.19-169-183-195-227-252-292-296-310-342-356-430-433-498-521-551
¯Distrijazz edita em CD, sob
chancela ECM, Serguei Prokofiev [1891-1953]: Visions Fugitives, [Nikolai] Medtner [1880-1951]: Fairy Tale in F Minor, [Frédéric] Chopin [1810-1849]: Sonata N.º 3 pela pianista Anna Gourari. IMAG.92-117-191-203-247-265-284-298-319-325-375-380-389-409-412-446-462-517-533-549-572
EXTRAORDINÁRiO
OS ALTERNATIVOS
– Folhetim Aperiódico
QUANDO ME
ENTERNEÇO EM VÃO, DESAPAREÇO – 1
8 de Maio de
1923
- Tu já pensaste, ó Petisco, que, se nós os dois quisermos, a gente
poderia entender-se?! - questionou-o Benigna da
Purificação, num assomo de extraordinária ternura.
–
Continua
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