segunda-feira, setembro 15, 2014

IMAGINÁRiO #522

José de Matos-Cruz | 08 Julho 2015 | Edição Kafre | Ano XII – Semanal – Fundado em 2004

PRONTUÁRiO

FASCÍNIOS
Após uma primeira geração de notáveis artistas pioneiros, a banda desenhada de expressão franco-belga exploraria distintos horizontes e protagonistas, sob a estratégia das principais editoras, e visando um mais amplo público de adolescentes e adultos. Aos aliciantes da aventura correspondem os temas virtuais, testando-se versáteis grafismos pela pulsão estética e narrativa. Por tais parâmetros sobressai Jean-Pierre Gibrat, cuja notoriedade de firmou com La Parisiènne (1983), na revista Pilote. Autor de minuciosa ilustração, sobre a fértil escrita de Daniel Pecqueur, Gibrat desenvolveu a saga de Claire Dulac, uma fascinante navegadora solitária em Maré Baixa/Marée Basse (1996). Após Pinóquia/Pinocchia (1995), um «conto de fadas para adultos», desta vez - subvertendo a fantasia moral, em todos os estigmas irónicos e perversos - não é um sapo desencantado, mas um macaco-de-circo que, ao beijo da bela Claire, se transforma em príncipe… amestrado! Uma Veneza pós-apocalíptica ressurge, sempre sedutora e fétida, tendo-se excedido Gibrat, num fascínio gráfico entre o sortilégio erótico e a provocação estilística. IMAG.48

CALENDÁRiO

¸07DEZ1915-24JUN2014 - Eli Herschell Wallach, aliás Eli Wallach: Actor americano de cinema, carismático secundário em Os Sete Magníficos (1960) de John Sturges ou O Bom, o Mau e o Vilão (1966) de Sergio Leone - distinguido com um Óscar Honorífico (2010) pela Academia de Hollywood.
                                                                                                   
¨26JUL1925-25JUN2014 - Ana María Matute Ausejo, aliás Ana Maria Matute: Escritora espanhola, autora de O Esquecido Rei Gudú (1996), membro da Real Academia Española, distinguida com o Prémio Cervantes (2010) - «Quem não inventa, não vive». IMAG.413

¸26JUN2014 - Bando à Parte estreia Cativeiro de Rodrigo Areias (com Alzira Pinho e Irene Alves), 1960 de André Gil Mata e Yama No Anata/Para Além das Montanhas de Aya Koretzky. IMAG.284-414-514-517
                                                           
¢26JUN-25OUT2014 - Em Lisboa, Fundação Arpad Szènes-Vieira da Silva expõe, com Manufactura de Tapeçarias de Portalegre, Tapeçarias de Portalegre Na Obra de [Maria Helena] Vieira da Silva (1908-1992), sendo curadora Vera Fino. IMAG.14-39-42-75-134-168-182-224-227-382-386-392-434-461-486-490-499-500-502

µ27JUN-31AGO2014 - No Porto, Edifício Axa apresenta L’Imaginaire d’Après Nature - exposição de fotografia de Henri Cartier-Bresson (1908-2004). IMAG.5-477

¢27JUN-21SET2014 - Em Lisboa, Museu Calouste Gulbenkian expõe O Traço e a Cor - Desenhos e Aguarelas Na Colecção Calouste Gulbenkian.
                  
MEMÓRiA

¯09JUL1935-2009 - Mercedes Sosa, aliás La Negra: Cantora argentina - «Ela deu voz à maioria silenciosa, àqueles que não podiam falar no tempo da ditadura na Argentina» (Victor Heredia). IMAG.271 

¯10JUL1895-1982 - Carl Orff: Compositor, maestro e professor germânico, fundou em 1924 com Dorotee Günther uma escola de música, ginástica e dança - «Estas actividades interessavam-me, na medida em que cada vez mais se conectavam ao meu trabalho para o teatro». IMAG.364

10JUL1925-2009 - Vasco Granja: Pioneiro e primordial divulgador em Portugal da banda desenhada e do cinema de animação - «uma linguagem autónoma, que nada ou quase nada tem a ver com a técnica e a estética do cinema, excepto no que se refere ao suporte material». IMAG.250-384-385

¯1926-11JUL2005 - Piero Cappuccilli: Barítono italiano, prestigiado na interpretação de obras de Giuseppe Verdi - «A sua dimensão vocal, teatral e artística convertem-no em uma das maiores personalidades da representação do Século XX» (Rubén Amón).
 
¨1837-15JUL1885 - Rosalía de Castro: Novelista e poetisa galega, autora de Folhas Novas (1880) - «Bem sei que não há nada / de novo sob o céu, / Que antes outros pensaram / As cousas que ora eu penso. // Bem, para que escrevo? / Bem, porque assim somos: / Relógios que repetem / Eternamente o mesmo.» (Vaguedades - excerto). IMAG.43

VISTORiA


Cantiga
¨Eu cantar, cantar, cantei;
a graça não era muita,
pois nunca por meu pesar,
fui eu menina graciosa.
Cantei como foi possível,
dando voltas e mais voltas
assim como quem não sabe
perfeitamente uma cousa.
Porém depois de mansinho
e um pouco mais alto agora,
fui soltando essas cantigas
como quem não quer a cousa.
Eu bem quisera, é verdade,
que elas fossem mais bonitas;
eu bem quisera que nelas
bailasse o sol com as pombas,
as brancas águas com a luz,
e os ares mansos com as rosas.
Que nelas claras se vissem
a espuma das verdes ondas,
do céu as brancas estrelas
da terra as plantas formosas,
as névoas de cor sombria
que lá nas montanhas voam;
os pios do triste mocho,
as campainhas que dobram
a primavera que ri,
e os passarinhos que voam.

E canta que canta, enquanto
os corações tristes choram.
Isto e ainda mais quisera
dizer com língua graciosa;
mas onde a graça me falta,
o sentimento me sobra.
Entretanto isto não basta
par explicar certas cousas
que, às vezes, por fora um canta
enquanto por dentro chora.
Não me expliquei qual quisera:
sou de pouca explicação;
se graça em cantar não tenho,
o amor da terra me afoga.
Eu cantar, cantar, cantei,
a graça não era muita,
mas que fazer – desgraçada! –
se não nasci mais graciosa.
Rosalía de Castro
- Tradução de Henriqueta Lisboa
         
ANUÁRiO

O1865 - O número de empregados do Estado em todo Portugal é de 12.811, sendo 3.503 no Ministério dos Negócios da Fazenda, 3.290 no Ministério dos Negócios do Reino, e de 3.442 no Ministério dos Negócios da Guerra.
    
BREVÁRiO

¨Dom Quixote edita Retrato de Rapaz- Um Discípulo No Estúdio de Leonardo da Vinci de Mário Cláudio. IMAG.51-220-520

¯Alia Vox edita em CD, Orient Occident II - Homenagem à Síria por Jordi Savall, com Hispèrion XXI.
       
GALERiA

Tapeçarias de Portalegre
Na Obra de Vieira da Silva

¢A exposição Tapeçarias de Portalegre Na Obra de Vieira da Silva integra todas as tapeçarias realizadas na Manufactura, e agora na posse de instituições e particulares. A única excepção é a obra Êxodo, de 1981, que pela sua enorme dimensão não  pode ser exposta no espaço do museu. O primeiro contacto de Maria Helena Vieira da Silva com o têxtil data de 1929, ao realizar maquetas de tecidos e tapetes para um atelier em Paris, que nunca viriam a ser executados. Em 1937, Vieira da Silva e a Arpad Szènes recebem como encomenda copiar uma pintura de Matisse e outra de Braque, para serem reproduzidas em tapeçaria: a de Braque seria tecida, a de Matisse não. Em 1954, Vieira da Silva ganha o concurso de tapeçarias que serviria para celebrar o centésimo aniversário da Universidade de Basileia, projecto que desenvolve durante vários anos e que terá sido o primeiro e o mais importante para a artista na área do têxtil. Em 1965, outras manufacturas realizam tapeçarias a partir de obras de Vieira da Silva,  como a Manufactura de Beauvais e os ateliers Gobelins.
Em Portugal, a Manufactura de Tapeçarias de Portalegre, por iniciativa de Guy Fino, inicia em 1968 a execução de um importante conjunto de tapeçarias a partir de obras de Vieira da Silva; não tendo intervenção directa nas peças, as tapeçarias tecidas a partir da sua obra agradavam-lhe. Todavia, Vieira da Silva criou poucos verdadeiros cartões de tapeçaria, em resposta a encomendas: em 1960 realizou o cartão Mouraria para as Manufacturas de Portalegre (a tapeçaria só seria realizada em 1975), um desenho de composição e cor simples; em 1971 concebe uma Biblioteca para a sala das Actas da Faculdade de Letras da Universidade de Bordéus, produzida nos Ateliers Pinton d’Aubusson. A pedido do Estado francês, Vieira da Silva pinta uma segunda versão, com uma gama de cores completamente modificada: a conhecida Bibliothèque En Feu (1970-1974), obra notável adquirida pela Fundação Calouste Gulbenkian, também realizada nos Ateliers Pinton.
Em 1981, o Ministério da Cultura e o Ministério dos Negócios Estrangeiros franceses encomendam a Vieira da Silva uma tapeçaria destinada ao altar da capela do Palácio dos Marqueses de Abrantes, sede da Embaixada de França em Lisboa, para além de cinco painéis pintados destinados à sacristia. Feita uma experiência com um pormenor do original, uma tapeçaria de pequenas dimensões para testar a técnica e confirmar a opção dos tons quentes e claros que, conjugados com o tema espiritual melhor estabelecessem uma relação directa com os cinco painéis, seria então produzida a tapeçaria final.
A Manufactura de Tapeçarias de Portalegre nasce em 1946, fundada por Guy Fino e Manuel do Carmo Peixeiro, e ainda hoje se dedica a preservar e reabilitar a arte da tecelagem,  e a reafirmar a técnica da tapeçaria como técnica artística original. Maria Helena Vieira da Silva, como outros artistas portugueses, participou na promoção da arte através da prática da Manufactura de Tapeçarias de Portalegre, iniciando um incontornável processo de autonomia da tapeçaria artística. É da Manufactura de Tapeçarias de Portalegre, hoje fragilizada pela escassez de recursos humanos e financeiros, o maior conjunto de tapeçarias suas, que permite apreender a diversidade e a unidade da sua produção artística.
     
EXTRAORDINÁRiO

OS SOBRENATURAIS
- Folhetim Aperiódico

ENTRE AS TERRAS DO SOL E O REINO DAS TREVAS - 1
9 de Novembro de 1903
Com o esbatido rosto em tristeza, Celeste pairou o olhar, de novo, sobre as palavras escritas ao vento. Apertou com quanta força podia e, pelo atrito do seu desespero, a folha mensageira entrou em combustão espontânea. Ou tê-lo-ia Hélio previsto? As frases inflamadas, desistindo embora de mais um encontro, iam esfumando as últimas expectativas íntimas à bela moça.
 
– Continua

Sem comentários:

Enviar um comentário