quinta-feira, junho 26, 2014

IMAGINÁRiO #511

José de Matos-Cruz | 16 Abril 2015 | Edição Kafre | Ano XII – Semanal – Fundado em 2004

PRONTUÁRiO
PERCURSOS
O ano de 1997 assinalou o reconhecimento de José Carlos Fernandes a nível nacional, como um dos mais aliciantes entre os nossos nóveis autores. Para tal contribuiu o Festival de Banda Desenhada - Amadora Bd, cuja linha gráfica foi delineada a partir da sua criatividade - iniciada em 1990, tornando-se versátil e fecunda como poucas. Assim voltou a reflectir a ilustração do belíssimo álbum Crossroads - Diário de Viagem Através de Um Mito (Dos Arquivos de Samuel Pastor) (1999), sobre uma narração de João Ramalho Santos & João Miguel Lameiras. «Acredito num Grande Desígnio para todas as coisas, embora ignore de todo qual ele possa ser…» Crossroads transpôs um deserto de inoperância e monotonia, que vinha caracterizando - com raras excepções livrescas e algumas aliciantes miragens - o panorama público da banda desenhada e do imaginário gráfico, em Portugal. Novos passos, oriundos dos quadradinhos prosseguem, pois, o culto e rasgam distintas vias na exploração de um vasto horizonte, para a nona arte. Além da coerência estética, alusiva, José Carlos Fernandes contribuiu, assim, com os seus predicados essenciais: subtileza minimal, fascínio, ironia e sensibilidade.

MEMÓRiA
¸1908-14ABR1995 - António Lopes Ribeiro: Realizador e produtor do cinema português, poeta, ficcionista e dramaturgo - «Lisboa é a mais linda, a mais fotogénica de todas as cidades do mundo. Conheço muitas, amo muitas. Mas nenhuma, podem crer, por pior que digamos dela quando nos arrelia e nos desola, lhe chega aos calcanhares. Os operadores de cinema têm em Lisboa um verdadeiro paraíso. As casas não têm aquela escura cor que tanto entristece as grandes metrópoles estrangeiras. E marinham decididamente pelas encostas, em vez de se estenderem num plaino sensaborão, que limita todas as perspectivas» (1947). >IMAG.1-27-31-48-74-76-94-115-130-131-164-166-175-189-210-221-224-227-229-256-297-307-317-328-335-339-345-347-355-412-436-457-458-501

1879-18ABR1955 - Albert Einstein: Físico teórico alemão, fundador da Teoria Geral da Relatividade, distinguido com o Prémio Nobel da Física (1921) - «A imaginação é mais importante que o conhecimento. O conhecimento auxilia por fora, mas só o amor socorre por dentro. O conhecimento vem, mas a sabedoria tarda» (Sobre a Ciência). >IMAG.31-51-103-218-443-444

¯20ABR1675 - Em Lisboa, na Casa Professa de São Roque, da qual que era Superior, morre o erudito padre Balthazar Tellez, da Companhia de Jesus, autor de Summa Universae Philosophiae (1642); nascera em 1595.

¨1907-22ABR1985 - Mircea Eliade: Ficcionista e filósofo americano, de origem romena - «Lisboa conquistou-me desde o primeiro dia… No último ano da minha estadia em Calcutta, tinha começado a aprender o português com método e paixão» (Mémoire II, 1937-1960).
             
VISTORiA
¨o que se ama ainda mais,
a solidão, a comoção
da garganta embargada,
a sedução das rosas
cor de sangue, aqui onde estou
sem encontrar muito bem o peso das palavras
que te quero dizer, e eu quero dizê-las devagar,
talvez timidamente encadeadas,
agora que as sombras são mais longas
Vasco Graça Moura
- O Caderno da Casa das Nuvens
(excerto - 2009)
      
CALENDÁRiO
¨1942-27ABR2014 - Vasco Graça Moura: Escritor português, poeta e ficcionista, ensaísta e tradutor, intelectual e político - «retiro-me dos sonhos, sou / a obscura matéria de uma ausência / que se dissipa contra as pedras, / devagar» (O Caderno da Casa das Nuvens - excerto - 2009). >IMAG.42-125-239-352-366

¢09MAI-20JUL2014 - No Centro Cultural de Cascais, Fundação D. Luís I expõe Built de Daniel Nave.

¢1919-06MAI2014 - Maria Lassnig: Artista plástica austríaca, especialista em auto-retratos, distinguida com o Prémio Oskar Koboschka (1997) - «Pinto a consciência do meu próprio corpo».

COMENTÁRiO
O ANTÓNIO E EU
¸Conheci pessoalmente o António Lopes Ribeiro num distante ano da década de ’70 do Século XX, depois do 25 de Abril, e logo tive uma das mais profundas impressões: raro encontrei pessoa tão culta, tão dinâmica, tão versátil e tão apaixonada pelas coisas, pelo cinema e pela vida.
Ele estava já meio retirado das lidas profissionais, e passava por alguns dissabores próprios da época. O meu entusiasmo e algum embaraço pareciam diverti-lo. Nasceu então uma amizade que se fortaleceu ao longo dos tempos, e se tornou de grande confiança pessoal, o que eu nunca esquecerei.
Pelo seu carácter, nos projectos que ainda tinha, o António era fascinante e autoritário. Em acordo tácito, nunca procurámos influenciar-nos nas convicções próprias, logo políticas, embora falássemos à vontade.
Isto, com a franqueza e o respeito mútuos, ajudou a consolidar a nossa relação e a levarmos por diante vários desafios, só alguns não concretizados. Entre estes, recordo a fundação dum Instituto de Filmologia, que incluía o António de Macedo. Chegámos os três a ter reuniões no Hotel Tivoli, onde morava a Beatriz Costa, mas as circunstâncias não foram propícias.
Pelo contrário, o Ciclo monográfico por que fui responsável, e organizado pela Cinemateca Portuguesa em 1983, aproximou-nos ainda mais em tarefas e expectativas. Ele concordou com o meu critério de se exibirem todas as suas fitas, sem excepção; e nunca receou que isso lhe trouxesse problemas. Foi assim possível inventariar e recuperar um vasto espólio.
Pude testemunhar a curiosidade e o interesse que o António continuava, sempre, a dedicar à modernidade ou à especificidade das manifestações artísticas: nos anos ’80 – quando pertencíamos, os dois, à Comissão de Classificação de Espectáculos – adquiria, metodicamente, a revista de banda desenhada (À Suivre); e mais tarde, já a doença o prendia em casa, surpreendi-o um dia mais entretido com uma cassete nova do Rui Veloso, do que em prestar-me a atenção que eu ia solicitar-lhe…
@José de Matos-Cruz

VISTORiA
¯Tommo occasiam dos annos, em que entro pera contar nam só as fundações, e progressos das casas, ou Collegios da Companhia, que, entam, socederam, mas também pera escrever a vida, e a morte de todos os varoens em virtude, que nestes annos, no tempo de S. Ignacio, entraram nesta Província: e assim ainda que tomo o princípio de tam longe, com tudo chego com as cousas, e noticias de muytas dellas, quasi a nossos tempos.
Balthazar Tellez
- A Chronica da Companhia de Jesu, Na Província de Portugal
(excerto - 1645-1647)

A pior das instituições gregárias intitula-se Exército, e eu odeio-o. Se um homem lograr algum prazer ao desfilar ao som de música, eu desprezo esse homem… Não merece um cérebro humano, já que a medula espinal o satisfaz. Deveríamos fazer desaparecer o mais depressa possível este cancro da civilização. Detesto todas as formas de heroísmo obrigatório, a violência gratuita e o nacionalismo débil. A guerra é o que há de mais desprezível. Preferiria deixar-me assassinar, a ter que participar nessa ignomínia.
Albert Einstein
- Como Vejo o Mundo

TRAJECTÓRiA
Mircea Eliade
¨Pensador, ensaísta e romancista romeno, nascido a 13 de março de 1907, em Bucareste e falecido em 1986, em Chicago, licenciou-se em Filosofia, em 1928. De seguida, prosseguiu os estudos na Universidade de Calcutá, onde se tornou amigo de Dasgupta, de quem recebeu ensinamentos sobre sânscrito e filosofia. De regresso a Bucareste, fez o doutoramento em 1933, com uma tese sobre iôga. Sete anos mais tarde, mudou-se para Londres, para ocupar o cargo de adido cultural na embaixada do seu país, e, no ano seguinte, ocupou a mesma função em Lisboa, até 1944. Em Portugal, interessou-se pela literatura clássica portuguesa e escreveu a síntese Os Romenos, Latinos do Oriente e a obra Salazar e a Revolução Portuguesa, este último sem tradução portuguesa por vontade do próprio Salazar que não apreciou as observações feitas por Eliade. Nunca obteve reconhecimento pelo seu trabalho em Portugal. Em 1945, foi para Paris trabalhar para a Universidade de Sorbonne, como professor de Religião Comparada. Iniciou aqui a sua fase de escrita em língua francesa. Treze anos depois, instalou-se definitivamente nos Estados Unidos da América, onde se naturalizou, para dirigir o departamento de Religião e ensinar História das Religiões na Universidade de Chicago.
Das suas obras destacam-se as de interesse pela filosofia hindu - Il Male e la Liberazione Nella Filosofia Sãmkhlya Yoga (1930) e Il Rituale Hindu e la Vita Interiore (1932) -, os inúmeros artigos e livros sobre religião e mitos - O Mito do Eterno Retorno (1949), Tratado de História das Religiões (1949), História das Crenças e das Ideias Religiosas (1949-1983) e ainda os romances Maitreyi (A Noite Bengali, 1933), A Volta do Paraíso (1934) e A Serpente (1937), entre outros.

ANTIQUÁRiO
ABR1865 - Neste mês, o gás consumido no concelho de Lisboa, na iluminação pública, importou na quantia de 4:350$580 réis.

18ABR1935 - Rádio Renascença lança O Papagaio - Revista Para Miúdos, ao preço de um escudo, sendo director Adolfo Simões Müller; em publicação semanal até ao número 722, em 10FEV1949.

ANUÁRiO
1875 - Neste ano, o número de cabeças de gado existentes no distrito de Évora, é: cavalar - 3.715, muar - 6.260, lanígero - 268.868, vaccum - 22.430, caprino - 72.693, suíno - 74.921, asinino - 7.924.

BREVÁRiO
¨Assírio & Alvim re-edita Coral de Sophia de Mello Breyner Andresen (1919-2004). >IMAG.2-18-112-168-213-249-268-302-390-449-473

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