José de Matos-Cruz | 01 Novembro 2016 | Edição Kafre | Ano XII –
Semanal – Fundado em 2004
PRONTUÁRiO
Do mais remoto algures
no tempo, o confronto entre bem e mal sagra-se para a eternidade, envolvendo -
numa espiral inexorável - gente comum e fúrias ecológicas. Aí colhem inspiração
múltiplos imaginários, de que o cinema é o mais completo, bizarro e,
simultaneamente, aglutinador. Mas nem assim deixa de reger-se por mecanismos subversivos de exaltação - sob o signo
da aventura ou da catástrofe - pervertendo o elã tradicional com outros riscos
ou ameaças supervenientes, pelos requintes da acção. A partir dos anos ’70 do
século passado, o terror evoluiu, sob
o signo de Hollywood, de universo em
moda para um género perturbante, convertendo-se em espectáculo por excelência -
graças aos prodígios tecnológicos, à estilização dos códigos de leitura, aos
próprios predicados de emoção popular. Exemplo imediato é Tubarão / Jaws
(1975) de Steven Spielberg - cujas
variantes ou mutações correspondem, desde então, ao insólito dos caprichos,
transes e tensões patentes no fenómeno obsessivo ou avassalador de um culto actual.
IMAG.18-23-44-63-71-72-80-88-93-136-147-155-159-171-183-199-225-273-304-383-388-391-412-443-445-465-484-488-506-535-576-00
IMAG.18-23-44-63-71-72-80-88-93-136-147-155-159-171-183-199-225-273-304-383-388-391-412-443-445-465-484-488-506-535-576-00
CALENDÁRiO
µ18SET-18OUT2015 - Em Oeiras,
Centro Cultural Palácio do Egipto apresenta Lanzarote
- A Janela de [José] Saramago
(1922-2010) - exposição de fotografia de João Francisco Vilhena. IMAG.38-75-155-158-196-198-224-241-245-252-263-268-311-331-385-394-412-475-521-539-553-564
¢17SET-24OUT2015 - Em Lisboa, Casa
da Liberdade - Mário Cesariny apresenta Antologia
de [Joaquim] Martins Correia (1910-1999)
- exposição de desenho, pintura,
escultura e azulejaria. IMAG.236-261
¢19-27SET2015 - No Centro Cultural
de Cascais, Fundação Luís I expõe The
Weight of the Lightness de Astrid Bergmann (Alemanha).
¢19SET2015-15JAN2016 - Em
Famalicão, Centro de Estudos do Surrealismo da Fundação Cupertino de Miranda
apresenta Texturas da Imaginação -
exposição de pintura de Rik Lina (Holanda), sendo comissários António Gonçalves
e Perfecto E. Cuadrado.
19SET2015-17JAN2016 - Na Amadora,
Casa Roque Gameiro apresenta Casa (Na)
Amadora - Vivência e Pensamento de [Alfredo] Roque Gameiro [1864-1935] a
Raul Lino (1879-1974). IMAG.40-169-186-197-251-447-474-558
¢24SET-23OUT2015 - Em Lisboa,
Museu do Oriente apresenta So Far, So
Close - exposição de pintura de Cindy Ng Sio Leng (Macau), combinando
vinhos do Douro e vinhos verdes, com tintas convencionais.
¢25SET-22NOV2015 - No Centro
Cultural de Cascais, Fundação Luís I apresenta Contemporâneo Desnudo - exposição de José Batista Marques.
ü26SET2015-26MAI2016 - Museu Municipal de Santiago do Cacém expõe Dom Frei
Manuel do Cenáculo [1724-1814] -
Itinerários Por Santiago do Cacém.
ANUÁRiO
¯1597-1646
- Virgilio Mazzocchi: Compositor italiano, mestre de capela de várias
instituições e igrejas romanas, autor com intensa produção de música sacra e
litúrgica.
¨1806-1842 - Carlo Bini: Escritor
italiano - «O egoísmo é o único móbil das acções humanas… A sabedoria humana
consiste em saber tolerar». IMAG.387
¨1826-1889 - Mikhail Yevgrafovich
Saltykov-Stcherdrine, aliás Nikolai Shchedrin: Satírico russo - «A vergonha é a
preciosíssima capacidade do homem de relacionar os seus comportamentos com as
exigências daquela suprema consciência, que nos foi deixada de herança pela
história da humanidade». IMAG.345-548
VISTORiA
¨A excitação, cujos efeitos ainda se faziam sentir, forçaram-na a
sentar-se e, os cotovelos apoiados sobre a mesa, a cara entre os punhos, ela
permaneceu silenciosa por um momento. Quando de novo retomou a sua narrativa
fê-lo com uma voz totalmente transformada; era um murmúrio, um salmodiar
sussurrado, era como se outra pessoa falasse em seu lugar:
– O Homem não vale nada, e a sua memória está cheia de buracos que
ele nunca poderá passajar. É preciso, no entanto, fazer muitas coisas que nos
esquecemos. Cada um de nós esquece o seu quotidiano. Comigo, eram todos os
móveis a que limpei o pó dia após dia e a muita loiça que havia para lavar. E
como cada qual me sentei para comer a minha refeição, mas como cada qual também
era um simples saber de que não há que lembrar, como se não houvesse clima, nem
o bom nem o mau tempo. Mesmo o prazer que gozei tornou-se para mim um espaço
sem clima, e embora me tenha ficado o reconhecimento pela vida, foram-se
apagando os nomes e os traços dos rostos que em tempos significaram prazer e
mesmo amor. Desapareceram na transparência de um reconhecimento que já não tem
conteúdo. Copos vazios, copos vazios. E no entanto, se não houvesse este vazio,
se não houvesse este esquecimento, o inesquecível não poderia desenvolver-se. O
esquecimento transporta o inesquecível nas suas mãos vazias, e nós somos
transportados pelo inesquecível. Nós alimentamos o tempo, alimentamos a morte
com tudo o que foi esquecido. Mas o inesquecível é um presente, é um presente que
a morte nos dá, e no momento em que nós o recebemos estamos ainda neste momento
aqui, onde nos encontramos, mas ao mesmo tempo estamos já além, lá onde o mundo
se precipita na escuridão. O inesquecível é um pedaço do futuro, um pedaço do
intemporal com que fomos presenteados antecipadamente, que nos transporta e
suaviza a nossa queda nas trevas como se fosse um deslizar. O que se passou com
o Senhor de Juna e eu era um presente da morte, um presente escuro, suave e
intemporal; e ajudar-me-á um dia a transportar-me, suavemente levada pela
plenitude das minhas recordações. Todos dirão que foi o amor, o amor, até à
morte. Mas não, não tem nada a ver com o amor, e ainda menos com o chorrilho
sentimental. Muitas coisas se podem tornar no inesquecível, nos podem
transportar acompanhando-nos, nos podem acompanhar transportando-nos sem que
nunca tenham sido o amor, e sem que nunca se pudessem tornar no amor. O
inesquecível é um momento de maturidade, produto de outros infinitos momentos,
de infinitas semelhanças que o precederam, infinitamente numerosas, que os
transportaram. E o momento em que sentimos que, formando, somos formados, fomos
formados, que existimos. É perigoso confundir isso com o amor.
Hermann Broch
- A Criada Zerlina (1950 - excerto)
(Versão de António S. Ribeiro com
colaboração de José Ribeiro da Fonte,
a partir da tradução de Suzana
Muñoz)
MEMÓRiA
¨ 01NOV1886-1951 - Hermann Broch: Escritor austríaco - «Sempre teve
uma consciência aguda da distinção entre este ponto de vista e a filosofia
propriamente dita e, por isso, atribui à arte um poder de conhecimento superior
ao da filosofia, pela sua capacidade de captar evidências e de possibilitar a
abertura do homem à totalidade e ao devir, algo em que a filosofia revela,
desde logo, a sua insuficiência» (Maria João Cantinho). IMAG.324-552
¢01NOV1936-2010 - Carlos Amado:
Escultor português, cenógrafo, professor universitário - «A sua obra combinou a
tradição e os valores renascentistas com um sentido de modernidade verificável,
por exemplo, no Monumento ao Baleeiro na vila das capelas, na Ilha de São
Miguel» (Celso Martins). IMAG.330
¯ 07NOV1926-2010 - Joan
Sutherland, aliás La Stupenda : Soprano
australiana - «Se juntarmos relevância discográfica a carreira operática, ela
está para Donizetti como Callas para Bellini, ou Marilyn Horne para Rossini.
Numa palavra: as três foram as grandes obreiras do regresso do belcanto ao reportório corrente dos
teatros de ópera, aos escaparates das discotecas e, na base de tudo isso, à
formação dos cantores» (Bernardo Mariano). IMAG.328
ANTIQUÁRiO
¨ 02NOV1866 - A Questão Coimbrã tem
início, com a carta Bom Senso e Bom Gosto,
de Antero de Quental (1842-1891) a António Feliciano de Castilho (1800-1875),
em oposição «ao escândalo inaudito duma literatura desaforada». Em Bom
Senso e Bom Gosto,
Antero responde à carta-posfácio de Castilho, inserta no Poema da Mocidade (OUT1865) de Pinheiro Chagas (1842-1895), na qual
o autor de Cartas de Eco a Narciso
ironizou com as teorias filosóficas e poéticas expostas nos prefácios a Visão dos Tempos e Tempestades Sonoras (ambas de 1864), de Teófilo Braga (1843-1924),
e na nota posfacial das Odes Modernas
de Quental (JUL1865). Antero define, ainda, «a bela, a imensa missão do
escritor» como «um sacerdócio, um ofício público e religioso de guarda incorruptível
das ideias, dos sentimentos, dos costumes, das obras e das palavras». IMAG.30-32-39-52-59-91-99-118-147-161-187-214-258-260-263-270-293-312-332-338-354-357-367-371-394-406-407-519-577
BREVIÁRiO
¯Universal
edita em CD, sob chancela Blue Note, Round
Midnight: The Complete Blue Note Singles (1947-1952) por Thelonious Monk
(1917-1982).
¨Relógio D’Água edita O Idiota de Fiodor Dostoievski (1821-1881);
tradução de António Pescada. IMAG.220-281-297-310-321-377-383-506-519
Sem comentários:
Enviar um comentário